Título: Mundo aguarda a chegada da fatura
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 23/05/2010, Economia, p. 20

Mais do que a insatisfação dos próprios cidadãos europeus com os ajustes impostos por alguns governos da região, a União Europeia deve continuar amargando a desvalorização de sua moeda, processo que vai se refletir na economia de outros países fora do bloco. O aumento da competitividade dos produtos do Velho Mundo no mercado internacional, impulsionado pelas baixas cotações do euro, será uma das consequências mais imediatas, prejudicando as exportações de países em desenvolvimento. O economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho Filho, acredita, no entanto, que os reflexos serão diferentes na China e no Brasil, por exemplo. ¿Nossas exportações para a Europa são muito voltadas para os produtos básicos. Os europeus não vão poder reduzir muito as compras. A China, que vende uma quantidade maior de bens de consumo, vai sofrer mais¿, avalia. Apesar de não sentir tanto a queda das exportações, o Brasil pode observar uma redução temporária na entrada de capitais, seja de curto ou de longo prazo, o que deve valorizar o dólar em relação ao real. A avaliação consta de um relatório do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele acredita que a incerteza do mundo em relação à capacidade da Grécia de realizar os ajustes fiscais anunciados deve manter as oscilações do mercado e, consequentemente, diminuir a disposição do investidor de vir para o Brasil. Mesmo entre os países da União Europeia, alguns serão mais afetados do que outros, segundo Carvalho Filho. ¿O euro vai continuar fraco, mas essa desvalorização não será suficiente para beneficiar a Grécia, por exemplo. Vai ajudar a Alemanha, que já é competitiva, exporta bens de capital e maquinário¿, explica. Segundo ele, para os países do sul da Europa (Grécia, Itália, Portugal), não há outra solução a não ser enfrentar uma longa recessão.

Deflação nos EUA Com o euro cada vez mais próximo do dólar, as importações de produtos europeus pelos Estados Unidos devem crescer, o que aumenta o risco de deflação no país e derruba o argumento do governo americano para uma eventual subida dos juros básicos. A moeda europeia encerrou a semana valendo US$ 1,257, numa alta de 0,86% sobre a cotação do dia anterior. ¿Enquanto os europeus não se acertarem, vão atrapalhar o resto do mundo¿, dispara o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que aparenta mais preocupação com uma possível crise de confiança do que com os efeitos comerciais da desvalorização do euro. O economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo Silveira, considera o enfraquecimento da moeda fundamental no acerto das contas públicas na Zona do Euro. ¿Encaro como a parte mais dinâmica na solução do problema global. Os europeus estão em uma enrascada. Para que os países desenvolvidos se recuperem num ritmo satisfatório, os emergentes terão que crescer um pouco menos¿, analisa. Para Silveira, o crescimento das exportações europeias e a redução das vendas externas nos países emergentes seria uma forma de evitar uma depressão mais profunda na Europa e de suavizar a expansão econômica exacerbada de economias em desenvolvimento. ¿Essa troca possibilitaria um crescimento futuro sustentável¿, estima. (GC)