Título: Jogo zerado
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2006, O PAÍS, p. 2

Ao partir para o ataque à CPI dos Bingos e para a defesa do ministro Palocci o presidente Lula manifestou, em diversas reuniões desde terça-feira, a convicção de que estava em curso uma ofensiva da oposição motivada por seu crescimento nas pesquisas. A reportagem da revista ¿Época¿ mostrando depósitos na conta do caseiro Francenildo zera o jogo para derrubar Palocci. Todo o episódio mostra os tambores da guerra eleitoral rufando alto e anunciando o que ainda nem começou. No esforço para salvar Palocci neste repique da crise, o governo conseguiu um rara unidade que se estendeu até o PT, onde hoje deve ser votada uma moção de defesa do ministro. Foram muitas as reuniões desde terça-feira, quando o jornal ¿O Estado de São Paulo¿ circulou com a entrevista do caseiro desmentindo o ministro, contando detalhes de suas visitas à casa que era usada para negócios e diversão por seus ex-auxiliares em Ribeirão Preto. Com a garantia inicial de Palocci de que o caseiro mentia, como teria também mentido o motorista, Lula tomou a decisão de sustentar sua permanência e enfrentar a oposição. Na quarta-feira, quando soube em Sergipe da tríplice derrota do governo na CPI dos Bingos ¿ convocação do caseiro para o dia seguinte, convocação de Delúbio e acareação entre Paulo Okamotto e Paulo de Tarso Venceslau ¿ marcou nova reunião de coordenação para quinta-feira de manhã. Para ela, chamou Palocci que, abatido, pouco falou, e, além dos ministros de sempre, os senadores Tião Viana e Mercadante. Ali concluíram que era hora de enfrentar a CPI e o que o governo chama de seus ¿desvios de foco¿. Viana saiu autorizado a pedir a liminar contra o depoimento do caseiro, que não obteve a tempo de impedir que ele falasse por 40 danosos minutos. Foi a mais agressiva reação do governo desde o início da crise e produziu também a mais agressiva investida da oposição, pedindo a cabeça do ministro. Do Planalto, vieram os avisos de que Palocci não sairia. Ontem, de Santa Catarina, onde fez ardorosas defesas de Palocci, Lula acionou outros ministros para que saíssem em defesa do colega da Fazenda. Com todos argumentou, indignado, que a oposição agora não estava querendo investigar, mas desestabilizar a economia para enfraquecer o governo e atingi-lo. ¿ Vou segurar o Palocci! Não vai ser como eles estão querendo! ¿ disse a um deles. As revelações de ¿Época¿ sobre os depósitos na conta do caseiro devem deixar a oposição ressabiada. Já se falava no Senado, desde terça-feira, que fora o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) que descobrira o caseiro e providenciara sua entrevista. Soube-se depois que o dono da casa alugada aos ribeirão-pretanos é filiado ao PSDB. Mas só o esclarecimento sobre a origem dos depósitos poderá confirmar a suspeita dos governistas de que o caseiro foi comprado. Se foi, a luta política, já freqüentada por detalhes sórdidos, está chegando a uma assombrosa falta de limite.