Título: EMPREGO INDUSTRIAL ESTAGNADO E SALÁRIO EM ALTA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2006, ECONOMIA, p. 30

Mesmo com vendas maiores, vagas no setor não cresceram em janeiro. Folha de pagamento do trabalhador subiu 5,3%

Mesmo com vendas em alta, a indústria brasileira não contratou em janeiro. O emprego industrial, que vinha em queda desde outubro, ficou estagnado no primeiro mês do ano, na comparação com dezembro, informou ontem o IBGE. Já os salários dos trabalhadores avançaram 5,3%. A Pesquisa Mensal de Emprego e Salário trouxe mais números desanimadores: frente a janeiro de 2005, o corte de vagas foi de 1,3%, a maior queda desde dezembro de 2003, quando 1,9% dos postos de trabalho no setor foram extintos. ¿ O aumento da produção verificado nos últimos meses do ano ainda não rebateu no emprego ¿ diz André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE. O freio na produção no ano passado ¿ alta de 3,1% em 2005 contra 8,3% em 2004 ¿ influenciou diretamente a geração de vagas. Segundo Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os dados de vendas divulgados anteontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ¿ alta de até 4,9% em janeiro ¿ mostraram que o setor ainda está estocado. No mesmo mês, a produção industrial caíra 1,3%: ¿ Ainda havia estoque a queimar. Acredito que só no segundo trimestre haverá contratação, refletindo a retomada do ritmo produtivo.

Câmbio faz setor de calçados cortar 14,7% do pessoal

Segundo Macedo, do IBGE, outro fator a inibir o emprego no primeiro mês do ano foi a alta significativa do emprego em janeiro de 2005 (aumento de 3,1% no número de vagas): ¿ A base de comparação é muito elevada e o dólar baixo inibiu a contratação. O setor de calçados e couro cortou 14,7% do pessoal; enquanto a indústria de máquinas e equipamentos, 9,3%. Os dois segmentos foram os que mais reduziram pessoal. A concorrência dos importados fez recuar a produção e, conseqüentemente, a criação de vagas. A queda no emprego foi disseminada. Dos 14 locais pesquisadas, apenas cinco contrataram, ficando a Região Norte e Centro-Oeste com a liderança: mais 5% de admitidos em janeiro. Na outra ponta, no Rio Grande do Sul houve um corte de 9,4%.

Indústria de petróleo puxa o aumento salarial

A elevação de 5,3% na folha de pagamento real veio principalmente da indústria extrativa (petróleo). A soma de salários nesse ramo cresceu 23,7%, enquanto no resto da indústria a variação se limitou a 3,7%. E o Estado do Rio ganhou com isso. Com o pagamento de férias e adiantamento do décimo terceiro salário pela Petrobras, a folha de pagamento dos operários na indústria fluminense subiu 9% em janeiro, refletindo a alta de 61,1% na folha do setor de petróleo. Mas o emprego andou para trás no Rio. A redução foi de 1,4% frente a janeiro de 2005 ¿ e as taxas negativas mensais vêm se repetindo há mais de um ano. Houve predomínio das atividades em queda: 11 de 18 setores diminuíram o emprego. ¿ Isso mostra que a extrativa paga bem, mas contrata pouco ¿ disse Macedo.