Título: Depois de 10 anos, Minas equilibra contas com corte de investimentos
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2004, Brasil, p. A-3

Com solenidade no Palácio da Liberdade, o governador Aécio Neves (PSDB) informou ontem o equilíbrio orçamentário de Minas Gerais. Após dez anos fechando o balanço anual no vermelho, o Estado deverá chegar ao fim de 2004 com déficit zero. Segundo Aécio, o equilíbrio é resultado de uma "revolução gerencial" colocada em prática nos últimos dois anos. Quando assumiu o governo mineiro, em 2003, o déficit orçamentário previsto para o ano era de R$ 2,4 bilhões. Aécio herdou ainda uma dívida de R$ 1,3 bilhões com fornecedores . Os dados divulgados ontem pelo governo informam que o "choque de gestão" - um programa gerencial para controlar despesas e aumentar receitas que conta com a consultoria do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), que trabalha para muitas das maiores empresas brasileiras - levou Minas a um ganho real de R$ 2,1 bilhões entre 2003 e 2004. Para atingir o alardeado "déficit zero", o governo mineiro fez mais do que reduzir despesas e aumentar receita. Também sacrificou investimentos. De acordo com o relatório de prestação de contas do Estado no segundo quadrimestre, Minas havia gasto até o fim de agosto apenas 13% dos R$ 1,47 bilhão previstos para investimentos em 2004. No mesmo período, já havia desembolsado 60% dos recursos previstos para despesas com a folha de pagamentos. "Tudo foi com sacrifício, houve programas que deixaram de ser realizados", admitiu o secretário da Fazenda, Fuad Noman. Segundo ele, foi uma medida necessária para colocar a casa em ordem. "É como na casa da gente, não dá para gastar mais do que o salário", comparou. "Se não tem dinheiro para escola particular, vai para a pública." Ele observa que, com o equilíbrio fiscal, o Estado poderá voltar a investir no próximo ano e desembolsar integralmente os recursos previstos na proposta orçamentária de 2005 (R$ 1,63 bilhão). "2005 será o ano dos investimentos", garantiu o governador Aécio Neves. "Minas respira um tempo novo, o Estado está oxigenado", acrescentou. O balanço dos dois anos de gestão Aécio Neves, apresentado ontem no Palácio da Liberdade, mostra que medidas de redução de despesas, como a reforma administrativa e o corte de mais de 3 mil cargos de confiança, resultaram numa economia de R$ 304 milhões. Mecanismos para aumentar a receita, como metas de arrecadação para os fiscais da Secretaria da Fazenda, levaram a um crescimento total da arrecadação de 17%, equivalente a um reforço de caixa de R$ 1,7 bilhão, segundo o governo mineiro. Aécio Neves e o Fuad Noman admitem que o crescimento da economia brasileira teve contribuição significativa para este aumento da receita mineira. Mas ressaltam que o crescimento na arrecadação mineira foi maior que a média nacional, de 8,2%. Pelos números do governo estadual, nenhum outro Estado registrou aumento de receita maior que o de Minas. "Minas se prepara para ser entre todos os Estados da federação o que mais vai crescer", alardeia o governador mineiro. Há quem enxergue, principalmente entre os servidores estaduais, muito marketing político nos números apresentados pelo governo estadual. O Sindifisco, sindicato que reúne os fiscais da Fazenda, é um dos que vêm fazendo críticas e acusa o governo de estar exagerando em benefícios fiscais para atingir as metas de aumento da receita.