Título: Na Colômbia, peso continua forte após reduções do juro
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 03/03/2006, Finanças, p. C8

Câmbio Política monetária do BC colombiano não reverte a queda do dólar

A experiência da Colômbia mostra que reduzir juros tem efeitos limitados sobre a taxa de câmbio. Analistas que acompanham moedas latino-americanas concordam em parte com o Banco Central brasileiro no argumento de que reduzir juros não é a solução para continuada valorização do real. Nuno Câmara, diretor de mercados emergentes do Dresdner Bank em Nova York, diz que a Colômbia, assim como o Brasil, mostrou sintomas da "doença holandesa" - o termo originou-se da reação da economia da Holanda à descoberta de petróleo no Mar do Norte, quando o grande fluxo de receitas de exportação valorizou a moeda e reduziu a competitividade de produtos industriais do país. Mas enquanto no Brasil o Banco Central vem mantendo as taxas de juros altas, focando no objetivo principal de alcançar as metas de inflação, na Colômbia as taxas de juros caíram tanto que chegaram a níveis reais negativos. Em fevereiro, o banco central colombiano optou por manter os juros estáveis em 6% ao ano - a taxa foi reduzida de 7,25% desde 2004 numa tentativa de desvalorizar o peso. Com isso, o peso colombiano interrompeu a trajetória de valorização, mas não reverteu a tendência e continua nos níveis mais altos desde a década de 60. "A taxa de juro poderá ficar negativa na Colômbia e mesmo assim não houve uma desvalorização expressiva do peso. O que existe é uma mudança estrutural na economia, que não se muda com política monetária", analisa Câmara. Além de melhores resultados em exportações, diz o executivo, o horizonte maior de previsibilidade aumenta, por exemplo, transferências de poupança de trabalhadores emigrados (volume significativo para economias latino-americanas) para investimentos no país. Câmara diz que, em alguns casos, o câmbio valorizado só explicita deficiências de infra-estrutura de exportação, como altos custos de logística. "De certa maneira, o Banco Central, ao não reagir, força o ajuste de produtividade que é necessário para a competitividade do país." É possível que o BC colombiano tenha de voltar a elevar juros ainda este ano diante dos sinais de reação dos índices de inflação com o forte crescimento econômico do país. "Estamos começando a ver nuvens no cenário inflacionário para 2007", disse o ministro das Finanças do país, Alberto Carrasquilla, segundo a Bloomberg. A diretora da agência Standard & Poor's, Lisa Schineller, diz que "o exemplo da Colômbia mostra que a política monetária não pode combater tendências mais fortes no mercado internacional", como a grande liquidez internacional. Para Schineller, um dos fatores de estímulo à entrada de investimento estrangeiro na Colômbia é a melhora da situação de segurança no país. A executiva vê na Colômbia as mesmas pressões de exportadores existentes no Brasil por maior competitividade, mas a política monetária frouxa não resultou em apreciação do dólar. John Welch, executivo da Lehman Brothers, reconhece que a política monetária não deve resolver problemas de competitividade no Brasil. Mas discorda do argumento do Banco Central de que o papel do diferencial de taxa de juros é um "mito" na valorização do real. "O diferencial entre juros externos e internos está aumentando, ao contrário do que afirma o BC", diz Welch. Para ele, deve ser considerada não a taxa de juros básica do Federal Reserve (Fed Funds, que seriam equivalentes a uma taxa Selic), mas também o prêmio de risco brasileiro, que está chegando a níveis historicamente baixos (cerca de 2 pontos percentuais) sobre o rendimento dos títulos do Tesouro americano. No auge da crise, o spread brasileiro chegou a 24 pontos percentuais e havia caído para 4 pontos em meados de 2004. Ou seja, o rendimento externo nominal vem caindo expressivamente, mesmo levando em consideração as elevações da taxa de juros nos EUA. Entre o fim de 2002 e o início deste ano, a taxa dos "Fed Funds" subiu 3,5 pontos percentuais, para 4,5% ao ano. "Também há sinais claros no mercado interno de excesso da política monetária, como a curva de juros invertida e a redução expressiva da base monetária", comenta Welch. Embora concorde que na Colômbia a redução de juros não funcionou como o esperado para valorizar o câmbio, ele diz que o nível de taxas no Brasil ainda tem "gordura" suficiente para que haja cortes, sem ameaçar o cumprimento das metas de inflação.