Título: Crédito fica mais difícil em SC e RS
Autor: Raquel Salgado e Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2006, Brasil, p. A4

Puxado pelos consumidores com menos de 20 anos e mais de 70 anos, o nível de inadimplência no comércio de Porto Alegre avançou de 8,9%, no fim de 2004, para 11,04%, no acumulado de 2005, e sinaliza um ano difícil pela frente. Somada à estagnação do poder de compra dos consumidores, a situação obriga os varejistas a adotarem regras mais rigorosas para a concessão de crédito e limita as expectativas de desempenho do setor para 2006 a no máximo um "empate", em valores nominais, com as vendas de 2005, explica o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da cidade, Vilson Noer. No ano passado, as vendas do comércio na capital gaúcha já apresentaram queda real (deflacionada pelo IPCA) de 1,47%, em comparação com 2004. Em dezembro, a inadimplência (considerados os atrasos de seis meses ou mais) atingiu o pico de 13,1%. Com o 13º salário, muitos consumidores trataram de regularizar os débitos, mas em janeiro o índice ficou em 12,03%, ante 9,72% no mesmo mês de 2005, e em fevereiro subiu um pouco mais (12,18%). Os segmentos mais atingidos são eletroeletrônicos, eletrodomésticos e automóveis. O problema é maior nos dois extremos de faixa etária dos consumidores. Entre os mais jovens, a inadimplência chegou a 26% em fevereiro, em função do "apelo" gerado pela grande disponibilidade de produtos, especialmente celulares e eletroeletrônicos, explica Noer. Já os mais idosos são seduzidos pela oferta de dinheiro por intermédio dos empréstimos consignados para aposentados, o que comprime a já "minguada" renda e coloca o nível de inadimplência desta faixa da população em 20%. Na Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina, o volume de registro de dívidas cresceu 58% em janeiro, enquanto a recuperação de dívidas cresceu 62%. Em fevereiro, o movimento não se manteve: a recuperação caiu 27%, e os registros subiram 22%, ou seja, um aumento da inadimplência. Para o diretor do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC-SC), Rui Reckelberg, há ressaca das dívidas de fim ano, aliada à volta as aulas, comprometendo o crédito e impossibilitando que o consumidor pague em dia todos os compromissos. Apesar de sazonal, ele avalia como preocupante a situação, por causa da forte concessão de crédito consignado nos últimos dois anos. "Podemos estar caminhando para novo patamar de atrasos, e uma nova realidade de inadimplência. " A Lojas Salfer, maior varejista catarinense, registrou no primeiro bimestre do ano a mesma inadimplência registrada ao longo de 2005. Os atrasos superiores a 180 dias ficaram em torno de 5%. O volume de inadimplentes preocupa e a rede está mais rigorosa na concessão de crédito. "A oferta de crédito foi muito abundante em 2005 no país e as pessoas se endividaram com facilidade", explica Valdemiro Hafemann, diretor corporativo da rede. De acordo com o executivo, o ideal seria que a inadimplência voltasse para entre 2,5% e 3%, como se viu em 2004. Segundo ele, o patamar de 5% é o mais alto já verificado pela empresa. Nesse começo de ano, a Salfer começou a chamar os inadimplentes para renegociação de débitos, em freqüência até então nunca feita. Em janeiro, a Salfer apresentou crescimento de 25% nas vendas em relação a janeiro do ano anterior. Já em fevereiro, cresceu apenas 2% e o endividamento do consumidor no comércio em geral e os gastos com o retorno às aulas podem ser explicações para a diminuição das compras, na opinião de Hafeman.