Título: Inadimplência em fevereiro é a menor desde o Plano Real
Autor: Raquel Salgado e Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2006, Brasil, p. A4

Conjuntura Para varejo, taxa sinaliza bom desempenho no trimestre

A taxa de inadimplência das pessoas físicas em fevereiro chegou a 6,1%. Apesar de ser um aumento em relação a janeiro, é a menor para o mês desde o início do Plano Real. Pelos dados que retiram os efeitos típicos de fevereiro, como o feriado do Carnaval, e fazem dele um mês comparável com qualquer outro, a inadimplência cresceu 4,5%, número igual à média verificada ao longo do ano passado. O economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) , entidade que realiza o levantamento de dívidas canceladas e recebidas, acredita que os números do mês passado sinalizam uma boa perspectiva para o varejo no trimestre. "Limpando os carnês, poderão consumidor mais", diz. Alfieri ressalta que o teste mesmo será março. "É a partir daí que sentimos os efeitos das compras de Natal". Isso porque a taxa calculada pela entidade mostra a diferença entre novos registros de consumidores em atraso e pessoas que pagaram débitos antigos, e pondera esse total pelo volume de consultas ao sistema de vendas a prazo feitas três meses antes. Para Adriano Pitoli, da Tendências Consultoria Integrada, o volume total de endividamento dos consumidores pode aumentar, o que não pode crescer muito, diz, é o comprometimento da renda das famílias. Pelos dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), a parcela da renda atrelada a dívidas ficou em 31%, mesmo valor verificado em janeiro. "Como ainda há grande espaço para o crédito se alongar e o consumidor comprar em mais parcelas, o estoque da dívida também pode aumentar", explica o economista. A massa de rendimentos também oferece uma sinalização positiva. Após dois anos de crescimento, Pitoli espera alta de 5% nesse indicador. O rendimento deve ficar 3,3% maior em relação a 2005, enquanto o número de ocupados tende a crescer em torno de 1,8%. A expectativa é que o crédito continue com forte crescimento. Contudo, como se espera aumento também no número de pessoas empregadas no país, Pitoli acredita que haverá novos consumidores, que antes não tinham acesso ao crédito, fazendo compras a prazo. A projeção de alta no crédito pessoal é de 21%, ante 38,2% em 2005. Já o financiamento de automóveis deve ser 26% maior. Há ainda o fato de que quando o crédito se expande, dá uma folga para a inadimplência, lembra Fábio Pina, assessor econômico da Fecomercio. Segundo ele, hoje as dívidas em atraso não preocupam. "Mas se o endividamento não for acompanhado de crescimento econômico, teremos problemas". Em Recife , a inadimplência cresceu 16,7% em fevereiro na comparação com igual período de 2005. De acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da capital pernambucana, de cada mil cheques passados no comércio 29,3 foram devolvidos por falta de fundos. "Já esperávamos um comportamento do gênero. Fevereiro teve apenas 14 dias úteis e os bancos fecharam na sexta-feira. A situação deve se normalizar rapidamente", avalia o presidente da entidade, Sílvio Vasconcelos. A CDL registrou alta de 22,7% na inadimplência ligada aos crediários do varejo local. Vasconcelos acredita que o nível de inadimplência chegue ao patamar considerado normal já no final deste mês. Parte deste otimismo está depositada no fato de que muitas dívidas contraídas pelos consumidores nas festas de fim de ano, e que se somam a outros fatores, como matrícula escolar e IPTU, são regularizadas neste período.