Título: Copa do Mundo, salário e eleições aquecem consumo
Autor: Claudia Facchini
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2006, Empresas &, p. B1

Eletrônicos Eletros prevê que a venda de televisores alcance o recorde de 10,5 milhões de aparelhos

O número de microondas empilhados no depósito de um grande fabricante de eletrodomésticos chamava a atenção na semana passada. Os aparelhos vão abastecer o varejo, que começa a planejar suas encomendas para o Dia das Mães. "Acho que as pessoas vão comprar microondas pensando na pipoca para assistir aos jogos da Copa do Mundo", brinca um executivo do setor. O Mundial na Alemanha transformou-se em uma mina de ouro, capaz de vender qualquer produto. Para o setor de eletroeletrônicos, em especial, o evento será uma recompensa depois das crises entre 2001 e 2003. Espera-se que 2006, ao contrário, seja um ano comparável ao início do Plano Real. Além da Copa, outros fatores entram em campo a favor das indústrias de bens de consumo, como o aumento do salário mínimo para R$ 350 em abril e as eleições, que devem injetar mais dinheiro na economia. Segundo estimativas divulgadas pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), as vendas do setor, em volume, devem registrar um crescimento de 17% neste ano. O percentual considera os três segmentos: linha marrom (aparelhos de áudio e vídeo), linha branca e eletroportáteis (como batedeiras e liquidificadores). Entre os fatores que criam expectativas mais positivas também está a estabilização do dólar em um patamar mais baixo, o que reduz os custos dos componentes importados. No setor de linha marrom, os preços continuam em queda. Produtos como TVs de plasma custam hoje a metade do que custavam há um ano nas lojas. Com o câmbio desfavorável às exportações, as indústrias também tendem a elevar a oferta para o mercado interno, acirrando a concorrência. A Eletros prevê que as exportações no segmento de imagem e som caiam 25% este ano. As indústrias de linha branca, porém, devem manter o ritmo de embarques e prevêem elevar as vendas externas entre 5% a 8%. No segmento de eletroportáteis, espera-se um aumento em torno de 20% nas exportações Assim como ocorreu em 2005, a linha marrom deve puxar o crescimento do setor. A Eletros prevê que o número de televisores vendidos crescerá 16%, alcançando a marca de 10,5 milhões de aparelhos. Esse seria o maior volume já consumido no país, superando o recorde de 9 milhões de unidades registrado em 2005 e em 1996. Os aparelhos de DVDs também mantém a sua trajetória de popularização e continuam sendo um dos maiores fenômenos de vendas do setor. A queda dos preços e os parcelamentos oferecidos pelo varejo tornam agora o produto acessível também para para classes populares. A Eletros prevê um aumento de 65% nas vendas de DVDs este ano em relação a 2005, quando foram vendidos 7,5 milhões. Sem a dupla TV-DVD, os números da indústria de eletroeletrônicos são bem mais modestos. De acordo com a Eletros, descontados o efeito dos dois produtos, o crescimento do setor deverá ficar em torno de 3,4% em 2006, ou próximo às expectativas de crescimento do PIB, entre 3% e 3,5%. Em média, a linha de imagem e som deve crescer cerca de 30%; a linha branca, em torno de 3,5% e a de portáteis, aproximadamente 6%. "Essa projeção indica que o mercado ainda apresenta um ritmo de crescimento vegetativo", diz Paulo Saab, presidente da Eletros. "Os produtos de baixo preço unitário, voltados às classes C e D, poderão ter um desempenho melhor, em função do impacto das propagandas governamentais centradas na inclusão social e do aumento do mínimo", diz Saab. Segundo ele, há fatores que preocupam como os possíveis nervosismos gerados pelas campanhas políticas e a perda de competitividade nas exportações.