Título: Emissões já encostam em R$ 20 bi
Autor: Altamiro Silva Júnior e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2006, Finanças, p. C1

Mercado de Capitais Eleições levam empresas a antecipar ofertas de ações e debêntures

Depois de um ano de recorde absoluto, em que o mercado de capitais brasileiro movimentou R$ 71,2 bilhões em emissões registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2005, o ritmo das captações continua frenético este ano. Entre ofertas ainda em análise e as que já foram aprovadas pela autarquia, já há 133 operações que podem movimentar mais de R$ 20 bilhões em pouco mais de um trimestre, o que seria um recorde. Para os especialistas ouvidos pelo Valor, dois fatores explicam a euforia dos últimos meses. Primeiro, empresas e bancos de investimento estão se apressando para captar ainda no primeiro trimestre ou semestre, para aproveitar a farta janela de liquidez internacional e evitar o risco de eventuais turbulências no período pré-eleições. Além disso, eles acreditam que o mercado de capitais brasileiro está passando por uma mudança de patamar, com uma conjunção de fatores jamais vista, que inclui economia estável, juros em queda, alta liquidez e regulamentação mais moderna, como destaca o advogado Luiz Leonardo Cantidiano, ex-presidente da CVM. "O mercado está mais maduro", resume. Até o ano passado, o melhor período de captações no Brasil havia sido em 2000, quando R$ 31 bilhões em ofertas foram registrados na CVM. Desde então, os anos mais aquecidos mantinham este parâmetro. Os números deste ano, no entanto, são altos mesmo levando em conta a pressa das companhias para ir a mercado lançar papéis. Os cerca de R$ 12 bilhões de emissões em análise e os outros R$ 9 bilhões já registrados não incluem os valores das ofertas de ações, que estão em análise e que, segundo estimativas do mercado, podem movimentar mais R$ 6 bilhões. Na avaliação de Cantidiano, fatores como o apagão, o 11 de setembro, crise na Argentina e as eleições de 2002 provocaram um "represamento" das emissões. Com as condições atuais mais favoráveis, as empresas estão aproveitando esta janela de oportunidade, avalia o advogado. Ele acredita que as eleições devem "esfriar" as emissões no segundo semestre, mas nada comparado ao turbulento ano de 2002. Para o superintendente de registros de valores mobiliários da CVM, Carlos Alberto Rebello, o mercado de capitais pode realmente estar entrando em um novo nível. "De fato, os agentes do mercado são escaldados e já viram, no passado, janelas de oportunidade se fechar com muita rapidez, por isso o ritmo de ofertas submetidas à análise está apressado", observa. "Mas, com a queda de juro no horizonte, se as demais condições continuarem favoráveis, o ritmo poderá se manter. Pelo que recebemos de retorno dos agentes, há disposição para isso, o que realmente pode significar que o mercado brasileiro está vivendo uma nova realidade", completa Rebello. Segundo o superintendente, o ritmo de trabalho na autarquia está intenso. "Nos estruturamos para um determinado volume e o mercado está com uma demanda muito maior, temos trabalhado muito", conta. Para ele, as ofertas de ações despontam como o destaque do ano, por enquanto. Inicialmente, acreditava-se que em 2006 haveria um número maior de ofertas, mas eventualmente uma cifra menor de recursos captados. Os dados mostram que as ofertas de ações podem superar as expectativas. Na visão do superintendente, as captações por meio de recebíveis também devem continuar em franca expansão. "Em 2004, o patrimônio líquido dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) era de R$ 4 bilhões, agora já supera R$ 16 bilhões", lembra Rebello. "O mercado está muito líquido. Há dinheiro abundante para bons projetos e empresas com governança", avalia Nelson Rozental, da GP Investimentos. Para ele, as empresas estão aproveitando a atual "janela", pois as férias de verão nos Estados Unidos e Europa, que costumam esfriar as operações entre junho e agosto, vão terminar em pleno período pré-eleitoral. Para Luiz Macaíba, superintendente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), as eleições sempre geram incertezas e por isso muitas empresas aproveitam para captar agora. Nas debêntures, ele prevê captações entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões, abaixo de 2005, quando o setor de leasing emitiu sozinho mais de R$ 30 bilhões, mas ainda o segundo maior volume da história.