Título: Para Lula, Brasil vive "momento excepcional"
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2006, Brasil, p. A3

Relações externas Em discurso para a rainha Elizabeth II, presidente sugere integração "inspirada no futebol"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que as economias do Brasil e do Reino Unido vivem "excepcional momento" e conclamou os britânicos a aproveitar as "amplas oportunidades" para aumentar negócios bilaterais. Ao contrário do que o discurso de Lula sugere, contudo, tanto Brasil como Inglaterra tiveram, em 2005, crescimentos fracos. No banquete de gala que lhe foi oferecido pela rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham, Lula continuou no tema econômico e destacou que "desenvolvemos uma economia dinâmica e competitiva" e sugeriu que a cooperação se inspire no futebol, com os britânicos entrando com experiência e os brasileiros com criatividade. Por sua vez, a rainha Elizabeth fez elogios ao país e também transmitiu pequenos recados, num exercício de alta diplomacia. Ela destacou que "não há duvida alguma de que nos últimos anos o desenvolvimento do Brasil captou a atenção e a admiração do mundo". Chamou o país de um dos principais poderes emergentes, para destacar, em seguida, a importância para a comunidade internacional de o Brasil continuar a se desenvolver equilibrando crescimento econômico, proteção do meio-ambiente e promoção da boa governança. Em seu discurso de resposta, o presidente convidou a rainha para voltar a visitar o país para "conhecer as importantes conquistas nos campos politico, econômico e social". Um dos temas que vem marcando a visita de Lula a Londres é a questão ambiental. Um anúncio de página inteira do Greenpeace, organização não-governamental ambiental, publicado no jornal "The Independent", acusa Lula de não proteger a Amazônia. Num texto ao lado de sucessivas bandeiras brasileiras que se deterioram gradualmente, a ONG diz que desde que Lula assumiu o governo, uma área da floresta amazônica superior a 50% do tamanho da Inglaterra foi destruída ilegalmente por madeireiros, produtores de soja e pecuaristas. À noite, em discurso perante 167 convidados da rainha, o presidente disse, indiretamente, que em 2005 houve redução de mais de 30% na taxa de desmatamento da Amazônia, segundo ele o melhor resultado nos últimos nove anos. Enquanto Lula falava em português, a rainha lia o discurso em inglês. "Estamos construindo uma sociedade mais justa", disse, "um país em que ajustes macroeconômicos não são um fim, mas um instrumento de crescimento, geração de empregos e diminuição das desigualdades sociais". Lula agradeceu o apoio do Reino Unido à aspiração brasileira a um assento permanente em um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado. E deu um alfinetada diplomática, falando da importância de receber os recursos prometidos pela comunidade internacional para a reconstrução do Haiti, onde o Brasil comanda as tropas da ONU. O presidente anunciou que o Brasil vai se associar ao projeto britânico de um Mecanismo Financeiro Internacional para a Imunização em países pobres, entrando com US$ 20 milhões em 20 anos. Ao contrário do que a imprensa britânica especulou, a rainha não fez nenhuma menção ao assassinato, pela policia, do brasileiro Jean Charles de Menezes, em julho do ano passado. No banquete, um dos convidados era precisamente Ian Blair, o chefe da policia acusada do assassinato. Na verdade, enquanto Lula falava da "hospitalidade britânica", a rainha dizia se regozijar com tantos jovens brasileiros que vem estudar ou trabalhar no Reino Unido. A gafe desta vez ficou no lado monárquico. A rainha chamou o Rio de Janeiro de maior cidade do Brasil. Por sua vez, o presidente foi pontual durante praticamente todos seus compromissos. Só a BBC diz ter notado que ele atrasou um minuto na chegada para começar a visita oficial.