Título: Brasileiros, pontuais no horário, informais no trato
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2006, Brasil, p. A3

Os brasileiros foram pontuais no reino da Inglaterra, ontem. Alguns não escondiam um certo deslumbramento com a pompa real. A rainha Elizabeth II parecia realmente calorosa ao receber os brasileiros no Palácio de Buckingham. A visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou no horário exato, como marcava o livro de 107 páginas do cerimonial britânico. Às 12h20 ele chegou para a cerimônia de boas vindas pela rainha, acompanhado do príncipe Edward, que foi buscá-lo na residência do embaixador brasileiro. O primeiro-ministro britânico Tony Blair veio a pé de seu escritório carregando o guarda-chuva que protegia também o vice-primeiro ministro John Prescott. Terminado o evento, ele calmamente retornou a pé com seu guarda-chuva protegendo seu colega. Na tradicional passagem da guarda, foi a vez do marido da rainha, duque de Edimburgo, abrir o guarda-chuva para proteger Lula da chuva fina. Depois, a delegação brasileira entrou nas carruagens, sete no total. Lula com a rainha e o intérprete; dona Marisa com o duque de Edimburgo e intérprete. O cortejo durou 10 minutos até o Palácio da rainha. Ao chegar, Lula soltou um sonoro "bom dia" ao ver jornalistas brasileiros. No almoço, truta e salmão de entrada, frango no prato principal, depois queijo produzido pelo Castelo de Windsor e frutas. Um grupo de jornalistas brasileiros, escolhidos por sorteio, foi levado ao Palácio para acompanhar a visita de Lula à exibição de pecas brasileiras da coleção real. Entraram pelo portão de serviço, subiram escadas, passaram por corredores cheios de porcelana desarrumadas em cima de mesas, até chegarem na Galeria das Pinturas. A rainha logo apareceu com Lula, mostrando cada peça que tinha, na verdade, ligação com sua viagem ao Brasil em 1968. Tinha foto com Pelé, livro com capa de couro de cobra, quadro de paisagem brasileira de 1650 pintada pelo holandês Frans Post. Quando ela disse ter gostado muito da Bahia, o ministro Gilberto Gil respondeu que era baiano e se lembrava da visita. "Mas você era então muito jovem", admirou-se Elizabeth II. O ministro Luiz Fernando Furlan parecia um amigo de longa data da rainha, puxando conversa, rindo, enquanto Lula ficava discreto mais atrás. A jornalistas, Furlan disse que estava hospedado num quarto perto da escada, o que era bom porque "se houver incêndio saio rápido". E achou o palácio grande demais. "A gente quase precisa de um mapa". Quando dona Marisa chamou o presidente para ver uma chave na exposição, que foi dada à rainha na visita ao Recife, Furlan tirou sua maquina digital e fotografou-se com a rainha e o presidente. À noite, outro grupo de jornalistas foi levado para ver o salão de bailes antes do banquete. Viram máquina de lavar ainda embalada, passaram pelo enorme restaurante para os funcionários, por túneis antigos, até entrarem no suntuoso local quando um grupo de militares escoceses, vestidos com o tradicional saiote, ensaiava música com gaita de foles. Na mesa central o primeiro-ministro Tony Blair foi colocado quase no canto, escondido por um grande buquê de flores. O ministro Celso Amorim ficou entre Blair e Camila Parker-Bowles, mulher do príncipe Charles. Os jornalistas foram levados para uma sala distante, para acompanhar os discursos pela televisão. A delegação brasileira chegou vestida com terno e gravata, aproveitando a flexibilidade dada pelo protocolo. Os ingleses usavam casaca. Entre os poucos brasileiro de casaca estava o escritor Paulo Coelho, convidado da rainha. (AM)