Título: No NE, discurso de Alckmin é empresarial
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2006, Política, p. A8

Eleições Na região de maior popularidade de Lula, governador opta por dirigir-se à elite econômica

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que luta dentro do PSDB pela candidatura presidencial, afinou ontem, em João Pessoa, com um discurso voltado para a classe empresarial nordestina, como forma de contornar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na região. Alckmin também garantiu apoio para a transposição do rio São Francisco, uma obra polêmica que divide a região: Bahia, Sergipe e Alagoas são contra; Ceará, Paraíba e Rio Grande de Norte a favor. "Somos a favor das políticas compensatórias, como o Bolsa-Família, mas é evidente que o país precisa crescer, gerar emprego e renda", disse Alckmin, afirmando que o Estado deve induzir investimentos de infra-estrutura e turismo na região. "A palavra chave é competitividade e o Nordeste tem vantagens estratégicas para competir pelos mercados da União Européia e Estados Unidos, com o estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada e os Estados para investimentos em educação, infra-estrutura e agregação de valor", disse. Os próprios tucanos admitem que, no Nordeste, a tarefa de competir com Lula será difícil para qualquer candidato do partido. Acompanhando Alckmin na visita, o deputado federal João Almeida (BA) citou o Bolsa-Família, a ampliação do Pronaf e o Programa de Agentes Comunitárias da Saúde como os grandes trunfos de Lula na região. "Ele se apropriou de idéias nossas. Na campanha temos que desconstruir isso, mostrando que daremos continuidade aos programas e que o PT não investiu em obras", disse o baiano. A força de Lula na região faz com que os caciques tucanos do Nordeste que estão em posição de força em seus estados tendam para uma relativa neutralidade na disputa interna entre Alckmin e o prefeito paulistano José Serra pela candidatura presidencial tucana. Ambos terão a mesma dificuldade de bater Lula no Nordeste. É o caso do Ceará e da Paraíba, onde o PSDB governa. "Aqui, na Paraíba, faço a campanha com Alckmin ou com Serra da mesma maneira. O perfil dos dois é parecido e ambos podem herdar os apoios que temos", disse o governador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato à reeleição e que tem sua base de apoio pulverizada no PSDB, PFL, PTB, PDT e PPS. Nos Estados em que o PSDB é relativamente débil, como Bahia, Maranhão e Pernambuco, cresce a tendência por Serra, que já tem imagem popular firmada e agrega apoios na eleição proporcional. O mesmo quadro se repete em outras regiões do País. Alckmin tem apostado tudo no diálogo com as lideranças regionais tucanas, que se sentiram marginalizadas com a mediação feita pelo governador mineiro Aécio Neves, pelo presidente da sigla, senador Tasso Jereissati e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Esteve anteontem à noite com o governador de Roraima, Ottomar Pinto. Ontem, mandou o avião particular em que viajava aterrissar em palmeiras de Goiás, a cidade natal do governador de Goiás, Marconi Perillo, que aniversariava. Em razão disso, atrasou em uma hora e meia a sua chegada em João Pessoa, onde recebeu o título de cidadão honorário da Paraíba. Na próxima semana, deverá estar no Pará, para ser recebido pelo governador Simão Jatene. "Estamos cumprindo rigorosamente o ritual de encontrar com todas as instâncias partidárias", disse o secretário estadual de desenvolvimento e ciência e tecnologia, João Carlos de Souza Meirelles, um coordenador político informal do governador. A insatisfação dos líderes regionais, entretanto, é contida. Não devem reagir de forma pública à centralização das decisões no partido. "Eu já externei a minha contrariedade com essa forma de condução, mas não pretendo jogar lenha na fogueira. Só espero que a decisão venha de forma rápida, para liberar o PSDB para a negociação das alianças nacionais e nos estados", disse Cunha Lima. Na solenidade de ontem, Alckmin teve uma recepção acanhada. Apenas o deputado federal Domiciano Cabral colou faixas dando apoio explícito ao governador paulista, no teatro onde se realizou a cerimônia. As claques organizadas gritaram slogans a favor de Cunha Lima e do candidato tucano ao Senado, o ex-governador Cícero Lucena, mas não a favor da candidatura presidencial de Alckmin. Até na mídia o paulista não monopolizou as atenções, já que o ex-governador fluminense Anthony Garotinho também estava na cidade, fazendo propaganda a favor da sua pré-candidatura presidencial pelo PMDB.