Título: Oposição fecha acordo para prorrogar CPIs
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2006, Política, p. A9

PFL e PSDB oficializaram ontem um acordo para tentar prorrogar o funcionamento das duas comissões parlamentares de inquérito - dos Bingos e dos Correios. O pacto foi selado em reunião dos dirigentes das duas legendas na manhã de ontem. Uma parte do PSDB resistia à prorrogação, diante dos desgastes das CPIs e do risco de término sem aprovação de um relatório consensual. Os oposicionistas têm força suficiente para prorrogar a CPI dos Bingos, no Senado. Na noite de ontem o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), anunciou que já tinham sido coletadas as 27 assinaturas necessárias. Hoje deverá ser protocolado o requerimento e lido o anúncio de prorrogação no plenário. O pedido é para que a CPI funcione por mais dois meses após 25 de abril. No caso da CPI Mista dos Bingos, os oposicionistas estão cientes de que dificilmente conseguirão as 171 assinaturas da Câmara necessárias à prorrogação. Em 11 de novembro do ano passado a CPI dos Correios foi prorrogada por 120 dias. Governo e oposição travaram uma briga insana pela retirada e manutenção de assinaturas. Por fim, a oposição conseguiu manter a prorrogação com o mínimo de assinaturas. Os dois partidos decidiram apostar numa devassa nas contas do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, para desgastar a imagem do presidente Lula. Por duas vezes o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou a transferência dos sigilos de Okamotto à CPI, alegando inconsistências na fundamentação. Agora, PFL e PSDB decidiram contratar advogados para elaborar um pedido de quebra de sigilos impecável sob o aspecto jurídico. Okamotto quitou uma dívida de Lula com o PT. Os oposicionistas consideram o caso nebuloso e querem confirmar a origem do dinheiro. Há suspeitas de que a dívida tenha sido quitada com recursos do fundo partidário. A intenção da oposição é fazer uma conexão do esquema de caixa 2 do PT, patrocinado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, e o presidente Lula. Para barrar a prorrogação da CPI dos Correios, integrantes do PT ameaçam concentrar esforços para investigar as supostas conexões de Furnas com tucanos e pefelistas. A Polícia Federal investiga as denúncias de suposto financiamento irregular de campanhas de 156 políticos com recursos da estatal. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), é contra a prorrogação. O petista afirmou que o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) deveria apresentar o relatório final até o dia 21 deste mês para que os membros da comissão tenham tempo de aprofundar o debate e buscar um consenso na votação, até 10 de abril. Serraglio oscila entre prorrogar ou não a CPI. Num primeiro momento, mostrou-se contrário. Em seguida, como surgiram novas denúncias de envolvimento de políticos do PMDB com o esquema de Marcos Valério, o deputado mudou a avaliação e já admite a prorrogação. Segundo integrantes da CPI, Serraglio teme passar para a opinião pública a idéia de que não quer investigar os correligionários, seus colegas de PMDB.