Título: Ipea mantém PIB, mas espera investimento menor
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Brasil, p. A4

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento, preferiu manter uma postura conservadora para a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e manteve a taxa de 3,4% - prevista no boletim divulgado em dezembro do ano passado -, embora o governo venha trabalhando com uma previsão de 4%. Para os investimentos, otimismo em queda: a projeção baixou de 7% para 5,8% no Boletim de Conjuntura divulgado ontem. "Eu não descartaria um crescimento de 4%, mas nós acreditamos que está mais para 3,5% do que para 4%", disse o economista Fabio Giambiagi, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Ipea. Segundo ele, um dos fatores que dificultam um crescimento econômico maior do que a previsão do Ipea é o chamado "carry over" (efeito estatístico que mede o crescimento que passa de um ano para outro). O de 2005 foi de apenas 0,5%, enquanto o de 2003 foi de 1,5%, ajudando o PIB de 2004 a crescer 4,9%. O "carry over" é medido comparando o último trimestre com a média daquele ano. Se há uma aceleração forte no final do ano, o efeito tende a ser mais alto. O diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, disse que o Ipea também não mudou sua previsão para o PIB porque o cenário macroeconômico que se apresentou neste início de ano está de acordo com o que estava apresentado no boletim de dezembro, incluindo a queda gradual da taxa de juros. Para Levy, o que está gerando nos agentes uma perspectiva de crescimento maior é apenas a diferença de humor entre os momentos das duas previsões. Enquanto em dezembro o mercado estava sob impacto da divulgação do péssimo desempenho do terceiro trimestre de 2005, agora os agentes estão sob efeito do final do PIB do ano passado que, embora ruim (2,3% de crescimento), revelou uma aceleração no último trimestre (alta de 0,8% sobre o anterior). Em relação à mudança na previsão de crescimento dos investimentos, Levy disse que a principal razão para ela foi que a equipe do Ipea estava excessivamente otimista em relação ao desempenho da construção civil, posição revista após consultas feitas ao setor. A partir dessa reavaliação, a previsão de crescimento da construção passou de 6% no boletim de dezembro para 4,8% no divulgado ontem. Nas demais variáveis do PIB sob a ótica da demanda, o Ipea aumentou ligeiramente a expectativa de crescimento do consumo das famílias, de 4,6% para 4,8%, concordando que o consumo privado dê a tônica do crescimento econômico de 2006. Foi mantido em 1,8% a alta do consumo do governo. Para o Ipea, as exportações este ano chegarão a US$ 129,7 bilhões e o saldo da balança será de US$ 41,8 bilhões. Em dezembro, a previsão de saldo era de US$ 35,8 bilhões. Giambiagi disse que a mudança positiva, apesar da valorização do real, deve-se, principalmente a expectativas de aumentos de preços e de quantidades exportadas. O Ipea aumentou ligeiramente as previsões para o PIB por setor: a taxa da agropecuária passou de 2,9% para 3,3%; a da indústria, de 4,7% para 4,8%; e a dos serviços, de 2,4% para 2,5%. Segundo Giambiagi, o que explica a aparente contradição com o número geral é que o Ipea reduziu de 4,3% para 3,3% a estimativa de crescimento da arrecadação de impostos.