Título: Serviços freiam queda da inflação
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Brasil, p. A4

Conjuntura Aumento do mínimo abre espaço para bens que reagem pouco à atuação do BC

A "dor de cabeça" do Banco Central na perseguição à meta de inflação deste ano (4,5%) e dos próximos já tem nome, mas apenas parte das causas identificadas: são os serviços e os bens que não podem ser exportados ou importados. De acordo com nota técnica dos economistas Maria Andreia Parente Lameiras e Fabio Giambiagi no Boletim de Conjuntura - divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - a "dificuldade de recuo" dos preços dos bens e serviços tidos como não comercializáveis (aqueles impossíveis ou muito difíceis de entrar na pauta de exportações) está fazendo com que eles tenham peso crescente na composição do IPCA, a inflação oficial. Em 2000, quando o IPCA subiu 5,97%, eles responderam por 21,5% do total (1,28 ponto percentual). Em 2005 eles representaram 34,7% da alta do índice (1,98 ponto percentual) de uma inflação parecida (5,69%). Esses bens e serviços, que incluem alimentação fora de casa, aluguéis e outros serviços residenciais, serviços pessoais, educacionais e outros, passariam este ano a ocupar o lugar dos chamados preços administrados, como tarifas públicas, na resistência às políticas anti-inflacionárias. Geralmente indexados a um dos índices Gerais de Preços (IGPs) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os preços administrados resistiram a baixar significativamente durante muito tempo, levando o governo a atuar sobre os preços livres com uma política monetária fortemente restritiva, prática que mereceu severas críticas de parte dos economistas. Com a queda dos IGPs - provocada pela valorização do real em relação ao dólar americano -, os economistas do Ipea acham que o BC pode agora atacar a resistência dos não comercializáveis. Para Maria Andreia, mantida a trajetória que vêm apresentando nos últimos cinco anos, os preços dos não comercializáveis poderão chegar a 45% da inflação deste ano, isso na hipótese de que o IPCA fique no centro da meta (4,5% ) e que o subgrupo repita a performance inflacionária deste ano. "Isso pode fazer com que a inflação não caia tão rápido quanto o desejável", disse a economista do Ipea. O aumento do salário mínimo de R$ 300 para R$ 350, previsto para vigorar a partir de abril, poderia ser um forte realimentador dos preços de grande parte dos serviços que, em geral, usam a variação do mínimo como parâmetro. Segundo o trabalho dela e de Giambiagi, os bens e serviços não comercializáveis ainda sofrem o efeito da inércia inflacionária do passado e são fortemente influenciados por fatores como a baixa elasticidade de substituição de parte dos serviços e até pela violência urbana, no caso dos seguros de veículos. Entre as recomendações de políticas para o combate à resistência destes bens e serviços, os economistas alinharam a "persistência no cumprimento da meta como forma de quebrar a rigidez inflacionária" e a "moderação nos futuros reajustes do mínimo". Os economistas dividiram os não comercializáveis em seis grupos, sendo um de bens - o de alimentos e bebidas, restrito a alimentação fora do domicílio e a produtos "in natura", como hortifrutigranjeiros -, e cinco de serviços: aluguel e serviços residenciais, serviços de transporte, serviços médicos, serviços pessoais e recreação e serviços educacionais.