Título: Motorista diz ter visto Palocci em casa de lobista
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Política, p. A4

Em depoimento na CPI dos Bingos, ontem, o motorista Francisco das Chagas complicou, mais uma vez, a vida do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Contratado como motorista pelos ex-assessores de Palocci em Ribeirão Preto, Ralf Barquete, Rogério Buratti e Vladimir Poleto, Francisco confirmou que viu o ministro da Fazenda, pelo menos em três ocasiões, na casa alugada pelos três assessores em Brasília. O local, segundo Buratti, servia para reuniões do grupo com lobistas interessados em fechar contratos com o governo. Durante depoimento prestado em janeiro, Palocci garantiu aos senadores que sequer conhecia o endereço da Casa. "É uma confissão grave. As coisas estão se complicando e não somos nós que estamos buscando isso", declarou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), afirmou que Palocci precisa dar explicações sobre o assunto. "Não só aos senadores, mas à sociedade. O ministro Palocci mentiu para essa CPI", acusou o presidente da Comissão. O depoimento de Chagas nem havia terminado ainda quando o senador Tião Viana (PT-AC) ligou para Palocci, que está em Londres acompanhando a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tião acabou falando com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal. "O ministro reiterou que jamais esteve nesta casa", reforçou o senador. Para Arthur Virgílio, a situação torna-se ainda mais constrangedora diante de duas versões tão contrastantes quanto a do ministro e a do motorista. "Seria péssimo ter que fazer uma acareação entre os dois". O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), sugere uma gradação no confronto de informações. Para ele, as acareações poderiam ser feitas entre o motorista e os ex-assessores de Palocci em Ribeirão Preto. "Em último caso, chamaremos novamente Palocci", sugeriu. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) não acompanhou o depoimento, mas reconhece que as afirmações do motorista são graves. "Mas também soube que o senador Tião Viana ligou para o ministro e ele reiterou as negativas ditas aqui na CPI. Entre a versão do motorista e do ministro, eu fico com a do ministro", ponderou o pefelista. Francisco Chagas também afirmou ter visto os empresários portugueses, donos de bingos em Angola - Artur José Valente de Oliveira Caio e José Paulo Teixeira - no Ministério da Fazenda, em Brasília. A CPI investiga as acusações de que os empresários teriam contribuído para a campanha de Lula, em troca de apoio à liberação das Casas de Bingo no país. Tião Viana lembrou que não existe qualquer confirmação de que os empresários tenham se reunido com Palocci. "Eles poderiam, de fato, estar no Brasil, já que, até 2004, havia um grupo interministerial estudando a legalização dos bingos no Brasil", reforçou o petista. O presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais, protocolou ontem à noite as 37 assinaturas necessárias para a prorrogação da Comissão até 24 de junho. Já os parlamentares da CPI dos Correios decidiram, por falta de consenso especialmente entre os partidos de oposição, encerrar a CPI, com a apresentação do relatório final no dia 21 de março. (Colaborou Maria Lúcia Delgado)