Título: Plenário da Câmara absolve Roberto Brant por 283 votos a 156
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Política, p. A4

A Câmara absolveu ontem o deputado Roberto Brant (PFL-MG), por 283 votos contra a cassação, 156 a favor, 18 abstenções e um branco. Brant foi o terceiro deputado absolvido desde o início da apuração do escândalo do mensalão, depois de Sandro Mabel (PMDB-GO) e Romeu Queiroz (PTB-PE) foram os primeiros. Brant confessou o recebimento de R$ 102,8 mil da SMP&B, agência de publicidade de Marcos Valério de Souza, apontado como um dos operadores do mensalão. O deputado, no entanto, informou logo, desde o início da apuração das denúncias, que o dinheiro foi doado pela Usiminas, que o repassou pela agência de Marcos Valério, e foi aplicado em programa do PFL, não em sua campanha. Brant chegou ao plenário quando já havia começado a sessão. O deputado Nelson Trad (PMDB-MT), relator do caso no Conselho de Ética, já lia o relatório, no qual confirmou o pedido de cassação aprovado naquele colegiado por oito votos a sete (o resultado mais apertado até agora). No caminho até o plenário, recebeu diversos cumprimentos de colegas. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB), o encontrou no corredor que liga o anexo 2 da Câmara ao Salão Verde. "Boa sorte, Roberto. Você é um homem de bem", confortou Ciro, ao abraçar Brant e fazer questão de posar para a lente de um fotógrafo. O ex-ministro e deputado Eduardo Campos, também do PSB, repetiu o gesto do companheiro de partido. Brant seguiu até o plenário, acompanhoua leitura do relatório e subiu à tribuna para se defender. Por quase 40 minutos fez um discurso que os colegas consideraram competente. Defendeu-se das acusações e conseguiu terminar a fala com emoção mas sem apelar para frases de efeito, como boa parte de seus antecessores nas votações de perdas de mandato na atual crise. "Nem que a minha imaginação fosse muito fértil eu imaginaria estar aqui me defendendo de uma denúncia como essa", afirmou o parlamentar, ao iniciar o discurso. "Esse episódio maculou de forma definitiva a minha vida pública." O discurso tornou-se mais áspero quando Brant foi ao ataque: "Não é possível fazer política sem ter coragem. É preciso ultrapassar o medo de encarar a opinião pública, que é muito menor do que o povo", disse, e completou: "Dizem que devemos explicações à opinião pública. Eu discordo. Devemos explicações ao povo". Brant procurou também apontar a demora nas cassações como uma perda de tempo. "O Congresso está parado há meses por conta disso. A agenda do moralismo tomou conta da sociedade. E essa agenda leva a sociedade a olhar para o nada. O Congresso tem muito mais coisa a fazer do que julgar a cassações de um modesto deputado como Roberto Brant", afirmou. Mais ao final do discurso, o deputado iniciou o trecho mais emocionado de sua fala: "Se tivesse outras vidas, percorreria o mesmo caminho que trilhei. Tenho orgulho de ser deputado e nunca envergonhei esse Congresso". O parlamentar disse que nunca teve apreço pela riqueza. "Só de estar aqui me defendendo de uma acusação de cunho financeiro já me causa um pesar imenso", afirmou. Para finalizar o discurso, Brant revelou a mágoa pelos quase oito meses desde a primeira denúncia até ontem, razão pela qual afirmou que deixaria a vida pública qualquer que fosse o resultado da votação de ontem. "A amargura tocou minha alma. Dentro de mim, nasceu um deserto e vou viver com ele para sempre", afirmou, ao encerrar a fala e provocar fortes aplausos dos colegas. Ao descer da tribuna, foi cumprimentado por quase uma centena de deputados. Brant era acusado de receber R$ 102,8 mil da SMP&B, agência de Marcos Valério de Souza. No dia da denúncia, 22 de julho de 2005, Brant revelou a motivação do recebimento do dinheiro: doação da Usiminas, da qual a SMP&B tem a conta de publicidade. Ontem, o parlamentar repetiu a versão. "Recebi uma ligação do presidente da segunda maior empresa de Minas Gerais, idônea, que me disse que o dinheiro seria liberado pela empresa de publicidade, como foi", afirmou. Ele lembrou que o valor inicial era R$ 150 mil, mas recebeu R$ 102 mil por conta dos descontos de impostos e da comissão da agência. Recebeu nota fiscal pelo repasse, mas o PFL não declarou a verba, fato apontado pelo relator como razão para a cassação. Depois da absolvição de Brant, o plenário iniciou a análise do pedido de cassação contra o deputado Professor Luizinho (PT-SP), acusado de receber R$ 20 mil do valerioduto. O clima não era tão favorável quanto na votação de Brant. Poucos deputados arriscavam prognóstico sobre o resultado da votação. Luizinho subiu na tribuna e falou apenas 15 minutos em sua defesa. Fez um desagravo para tentar conquistar votos da oposição. " Por mais contundentes que tenham sido nossos embates e nosso debates, nunca se transformaram em algo pessoal " , disse, ao se referir aos companheiros do PFL e do PSDB. A apuração dos votos foi iniciada pouco antes das 22h30 e até o fechamento desta edição não tinha sido concluída.