Título: Burocracia preocupa exportadores brasileiros
Autor: Bettina Barros
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Internacional, p. A13

A necessidade de expansão da indústria automobilística, um dos setores que mais movimenta as importações na Venezuela, está nas mãos da burocrática máquina de liberação de divisas daquele país. Somente em 2005, as vendas de veículos no mercado venezuelano cresceram 70%, para um total de 229 mil unidades. Saem do Brasil uma boa parte desses carros e a maior parte das peças que compõem os veículos montados na própria Venezuela. Toda essa dependência num momento de aumento de demanda por veículos cria a necessidade de esquemas especiais. Uma empresa do setor, que não quer se identificar, conta que deslocou mais de 20 pessoas somente para cuidar dos trâmites comandados pela Comissão de Administração de Divisas (Cadivi). Os principais exportadores da indústria automobilística instalada no Brasil dizem que não tiveram até agora problemas para a liberação de dólares na Venezuela. No entanto, a necessidade de elevar os volumes para atender ao aumento de demanda causa preocupação no setor. Com fábricas no Brasil, na Argentina e na Venezuela, a fabricante de caminhões, ônibus e utilitários leves Iveco, do grupo Fiat, acaba de concluir um investimento de US$ 5 milhões para ampliar a produção na fábrica instalada em La Victoria, a 100 quilômetros de Caracas. Tanto a produção quanto o número de empregos vão crescer 30% por conta dessa expansão. As vendas da Iveco naquele mercado cresceram 80% em 2005. Além da unidade em La Victoria, as fábricas do Brasil e Argentina também ajudam a abastecer o mercado venezuelano. O diretor de relações externas da Iveco, no Brasil, Alberto Mayer, explica que o processo de controle de divisas é longo, demorado e requer uma preparação apurada. "Qualquer coisa que atrapalhe fura o ritmo", diz o executivo. Uma recente falha no sistema de computadores do Cadivi assustou os importadores venezuelanos. Mayer explica que a burocracia da importação faz com que o intervalo entre a saída de um veículo de Sete Lagoas (MG) até o desembaraço na Venezuela seja de 90 a 100 dias. A retirada da mercadoria da alfândega leva de 15 a 20 dias. Mas a maior parte dessa demora está justamente na liberação do dinheiro para a importação - de 30 a 40 dias. O executivo lembra que em apenas três anos, o mercado de caminhões naquele pais mais do que duplicou. Com a crise que o país viveu até 2003, muitas fábricas de veículos fecharam na Venezuela. Isso levou ao aumento de dependência das importações. É o caso da divisão de automóveis da italiana Fiat, que produziu carros naquele país até 1999. A partir daí, a fábrica foi vendida para um grupo local que não conseguiu até agora lançar projeto de fabricação dos carros da marca italiana. Depois da Argentina, a Venezuela é o principal mercado de exportação da fábrica brasileira da Fiat localizada em Betim (MG). O ritmo de embarques, que já somou 3 mil unidades nos dois primeiros meses do ano indica que a Fiat deve superar em 2006 o volume de 12 mil carros embarcados para em 2005. Além da General Motors, a Ford também tem uma fábrica na Venezuela, que monta modelos como o Fiesta a partir de componentes exportados pela unidade brasileira na Bahia. A empresa diz que não teve problemas até agora, assim como a Volkswagen, que envia para aquele país quantidade pequena de veículos da linha Gol. Outros contratos estão em andamento, o que pode complicar ainda mais a burocracia de importação. A companhia de metrô de Caracas encomendou recentemente 220 veículos à fábrica da Volvo em Curitiba (PR). A empresa informa que não houve alterações até agora. Além dos veículos, o fluxo de peças para as montadoras pode ficar comprometido. Somente no ano passado, os fabricantes de autopeças instalados no Brasil elevaram as exportações para a Venezuela em 36,86%, para um total de US$ 228 milhões.