Título: GM pára na Venezuela e culpa o controle cambial
Autor: Bettina Barros
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Internacional, p. A13

Indústria Empresa diz que governo não libera dólares para importação

A General Motors, maior fabricante de carros do mundo, fechou por dez dias sua montadora na Venezuela, alegando falta de dólares para pagar seus fornecedores estrangeiros devido ao controle cambial imposto pelo governo de Hugo Chávez. A empresa importa cerca de 70% das partes usadas para a montagem dos carros no país. Outras empresas do setor também reclamam da burocracia criada com o novo mecanismo, mas dizem ainda não ter registrado problemas semelhantes ao da GM. Mas sugerem que é preciso negociação para a liberação de dólares. A decisão de interromper a produção pelo período de 1º a 10 de março fará com que a GM deixe de produzir 3 mil carros na montadora de Valencia, disse o diretor para Assuntos Governamentais, Públicos e Legais, Luis Manuel Kolster. "O crescimento que a indústria automobilística está vivendo na Venezuela demanda mais dólares e um sistema mais rápido, que possa acompanhar o ritmo da economia", disse Kolster. A empresa prevê outra paralisação em maio. O controle cambial foi imposto por Chávez no início de 2003, na tentativa de conter a desvalorização da moeda local, decorrente da crise política no país, e a queima das reservas internacionais do Banco Central. Desde então, as empresas na Venezuela precisam informar com antecedência ao Cadivi (Comissão de Administração de Divisas, ligado ao Ministério das Finanças) sobre suas importações, enviando uma fatura ao órgão. O dinheiro costuma ser liberado de 30 a 40 dias após a chegada do produto à empresa, que então faz seus pagamentos aos fornecedores. A economista venezuelana Victoria Contreras, da Universidade Santa María, diz que "a obtenção do dinheiro com a Cadivi está muito relacionada com a capacidade de lobby das empresas, de negociar com o governo". Segundo ela, "quem consegue fazer lobby tem os dólares na mão. Certamente há muita corrupção aí, mas ninguém conseguiu provar ainda". Além da burocracia e da demora para a liberação das divisas, a GM critica ainda o valor a que tem direito. "Em 2004, a indústria automobilística registrou um crescimento de 111%. Em 2005, de 70%. A produção só pode aumentar se o governo autorizar mais verbas para o setor", diz Kolster. A expectativa inicial da empresa era produzir 100 mil unidades em 2006 e incorporar mais 600 funcionários ao seu quadro. "Mas não temos meios suficientes e corremos o risco de não cumprir o objetivo, que não é bom só para a GM mas também beneficia os trabalhadores, concessionárias, fornecedores, toda a cadeia produtiva." A meta, porém, era considerada otimista, pois o total de veículos vendidos no país deve chegar a 300 mil unidades este ano. Informe no site da Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), ligado ao Ministério das Finanças, afirma que o órgão autorizou a liberação de US$ 451 milhões para a importação de produtos e maquinário para o setor automotivo nos meses de janeiro e fevereiro deste ano. No entanto, "a GM sozinha necessita de US$ 100 milhões por mês para atender a demanda, mas só obtém entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões", diz Kolster. Até semana passada, a empresa tinha uma dívida de US$ 100 milhões com seus fornecedores, dos quais US$ 40 milhões consistem em débitos ligados à produção do Alveo, inscrito no programa Venezuela Móvil, criado pelo governo para popularizar os carros no país. Para a economista venezuelana Victoria Contreras, a reclamação quanto ao Cadivi parece limitada à GM. "No começo da implementação [do controle cambial] foi um caos porque as empresas tiveram de se ajustar e houve falhas técnicas no sistema, que atrasaram as transferências. Mas não ouvimos mais reclamações." O Cadivi não se pronunciou sobre a reclamação da montadora. Procurada pelo Valor, a Fedecámaras (principal associação empresarial da Venezuela) não quis comentar sobre o assunto, alegando que seu presidente, José Luis Bittencourt, estava viajando.