Título: Lula e equipe "vendem" otimismo em Londres
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Especial, p. A16

Governo Ministros falam em crescimento de 4% ou mais este ano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros prometeram à comunidade econômica e financeira britânica condições jamais vistas na economia brasileira, em diferentes ocasiões ontem em Londres. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, destacou que este ano a economia terá ''com certeza forte crescimento'', com os indicadores apontando para taxa parecida a de 2004, quando o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou cresceu 4,9%. O presidente do BNDES, Guido Mantega, acrescentou que haverá uma situação atípica, com as eleições deste ano não tendo impacto na economia. ''Está sobrando dólares no Brasil. É a primeira eleição de que tenho notícia onde não haverá corrida de dólar. Seria até bom uma queda do real, mas não tem jeito, nada conseguiu abalar a sustentabilidade'', disse. Os britânicos entraram no ambiente otimista, embora o príncipe Andrew, filho da rainha, em discurso, tenha colocado o Brasil atrás de China e Índia. Gary Campkin, o principal representante da Confederação das Indústrias Britânicas no seminário sobre relações bilaterais econômicas, confirmou que a "sofisticada estratégia" das companhias britânicas conduz mais investimentos para a China e Índia, mas previu fluxo "significativo" nos próximos meses para o Brasil, sem dar exemplo concreto. As observações britânicas sobre a China e Índia causaram reações do lado brasileiro. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que o Brasil é democrático, enquanto empresas britânicas estão indo para lugares que não são. O presidente Lula tratou de repetir que seu governo não faz experiências com crescimento e desenvolvimento. "Resolvemos fazer da política econômica o toque de seriedade de nosso governo. Não existe mágica". Lula disse ter tirado uma lição das donas de casa: o governo só gasta o que pode, daí os resultados positivos. Mantega reconheceu que existe também sorte, com as condições externas favoráveis. E citou Maquiavel, para quem um governante tem que tem sorte e virtude. Palocci esbanjou otimismo, frisou que a situação deste ano "não tem nenhum aspecto eleitoral", mas não quis se comprometer com o prometido "espetáculo do crescimento" alardeado por Lula no começo de seu governo. Já Mantega indicou que isso está próximo. Esse "espetáculo", para ele, significa expandir a economia entre 5,5% e 6% ao ano. E sua expectativa é de que o país já tem condições de crescer de forma sustentável entre 4% e 5% ao ano nos próximos dez anos. Disse que isso só não ocorreu já no ano passado por causa do ajuste para combater a inflação e quem "pagou o pato" foram os investimentos públicos. As autoridades brasileiras repetiram dados de aumento de produtividade e rentabilidade das empresas e acenaram com continuação de reformas, apesar da evidente dificuldade para aprovações no Congresso neste ano eleitoral. Também festejaram a criação de 100 mil empregos formais por mês - metade do que tinha sido prometido pelo presidente Lula na campanha eleitoral. "Depois de três anos e três meses de governo, já não precisamos fazer discurso de promessa, mas constatar o obvio", disse Lula, referindo-se aos resultados da economia. O presidente do BNDES previu que as reservas internacionais do pais, que chegaram a US$ 57 bilhões ao final de 2005, vão continuar subindo inclusive pela necessidade de o BC atenuar a valorização do real. Ontem, o presidente fez a tradicional visita ao Parlamento, foi num centro cultural ver uma exposição sobre a Tropicália, onde Gilberto Gil cantou ''Soy loco por ti America''. À tarde, foi a um projeto social britânico, discursou num seminário de economia e fechou a noite num banquete oferecido pelo prefeito da City, o centro financeiro londrino. Lula ainda teve tempo de pegar o celular do repórter Marcos Uchoa, da TV Globo, que falava com Parreira, o técnico da seleção brasileira, e tratou de defender Ronaldo, o atacante que foi chamado de "velho e gordo" pelo ex-craque francês Platini.