Título: Petrobras venderá reservas gigantes de potássio no AM
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Empresas &, p. B11

Mineração Os depósitos possuem concessão de lavra e são estimados em 300 milhões de toneladas do mineral

Depois de 15 anos sob seus cuidados, a Petrobras vai se desfazer de gigantescas reservas minerais no Amazonas. Ontem, a empresa lançou uma licitação para ceder todos os direitos minerários de potássio, localizados numa área a 140 quilômetros de Manaus. No ano passado, o Brasil gastou US$ 959 milhões com a importação de 5 milhões de toneladas de cloreto de potássio (matéria-prima para a produção de fertilizantes), o que representou 90% da demanda nacional. Os depósitos que já possuem concessão de lavra, estimados de 300 milhões de toneladas de cloreto de potássio, foram herdados pela Petrobras em 1991, quando o governo Collor extinguiu a Petrobras Mineração (Petromisa). A subsidiária havia sido criada em 1978 para abrigar ativos minerais descobertos durante a prospecção de petróleo. As reservas de potássio, descobertas em meados da década de 80, estão espalhadas em mais de 400 milhões de hectares. A maior parte delas ainda está em fase de pesquisa, Segundo Gláucia Delgado, consultora de novos negócios da Petrobras, as empresas interessadas terão até o dia 19 de maio para visitar o "data room". Depois, os participantes terão até 240 dias para realizar estudos e viabilidade e apresentar as propostas de desenvolvimento da área e o valor a ser pago à Petrobras pela concessão dos direitos minerários. "Não haverá pagamentos de royalties. O pagamento será feito de uma só vez. A consultora estimou que serão necessários entre três e seis anos para construir a usina de beneficiamento do material, a partir do anúncio da empresa vencedora, previsto para meados de 2007. Pessoas ligadas à operação apontam a Bunge, o grupo Votorantim e a Cia. Vale do Rio Doce (única produtora de potássio do país) como as principais interessadas nos ativos. Os últimos estudos para o desenvolvimento de uma usina de beneficiamento foram realizados há mais de quinze anos. Na época, seriam exigidos investimentos de US$ 1 bilhão, o que tornou o projeto inviável. "As análises estão bastante defasadas. Portanto, o novo dono deverá ter que refazer as prospecções e, provavelmente, terá de submeter novamente o projeto aos órgãos ambientais", disse Gláucia. Segundo cálculos da época, a mina tem potencial de cerca de 100 anos de atividades, gerando vendas de US$ 150 bilhões durante sua vida útil. A Vale é a única empresa a produzir potássio no país. Ela opera a jazida de Taquari/Vassouras, no Sergipe, que ainda pertence à Petrobras. A mineradora tem o direito de exploração da jazida até 2015. No ano passado, empresa produziu 640 mil toneladas de potássio, com vendas de R$ 359 milhões. No fim de 2005, a mineradora concluiu investimentos para ampliar a capacidade para 850 mil toneladas. Segundo a consultora da Petrobras, as reservas amazônicas são três vezes maiores que as de Sergipe; mesmo com o desenvolvimento das novas jazidas, o Brasil não alcançará a auto-suficiência da matéria-prima. As jazidas de potássio e uma reserva de sal-gema, localizada no Espírito Santo, são as últimas heranças da Petromisa. O processo de licitação das áreas de sal-gema chegou a ser iniciado, mas o trâmite foi suspenso por falta de documentação. Há alguns anos, a Petrobras devolveu ao governo federal direitos minerários de barita e de areias especiais, por falta de interessados.