Título: Palocci não teme alta dos juros americanos
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Finanças, p. C3

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem não ter "qualquer preocupação'' com a alta dos juros dos títulos americanos mais longos, que causaram apreensão dos investidores e provocaram alta no risco-Brasil (que mede o nível de confiança do investidor estrangeiro). "É uma situação momentânea, mas acomoda logo em seguida'', disse o ministro, depois de um encontro na London School of Economics (LSE). Em entrevista, Palocci insistiu que os indicadores da economia mundial são bons e não existe ''bolha emergente'', que significaria excesso de valorização dos ativos dessas economias. Ao seu ver, não tem nada a ver apenas com queda de aversão ao risco do investidor. Argumentou que os emergentes fizeram reformas estruturais importantes, dando o Brasil como exemplo. O fato é que o risco de crédito barato para os emergentes está em discussão. Em relatório trimestral sobre o estado das finanças internacionais, o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), o banco dos bancos centrais, indica que os ativos dos mercados emergentes subiram tão forte que estariam maduros para uma correção. O jornal "Daily Telegraph", de Londres, publicou meia página, ilustrada com foto de sambista brasileira, falando de ´´fim de festa´´ para os emergentes. Diz que analistas temem que o ciclo do dinheiro barato comece a virar para aumento de taxas de juros não só nos EUA, como na Europa e em breve no Japão, reduzindo a liquidez global. Andy Xie, economista do Morgan Stanley, é citado dizendo que uma "bolha" de emergentes pode explodir este ano. "Bastará um evento para mudar a situação'', diz ele. O fato é que até a Polônia hoje está obtendo crédito no mercado internacional mais barato que os EUA. Título de dez anos do México é negociado a apenas 0,8% dos títulos do Tesouro americano. Um índice de emergentes para ações subiu 160 pontos desde meados de 2003 e agora representa 14% de toda a capitalização das bolsas globais. A Rússia transformou-se de devedor a credor global, e tem reservas de US$ 260 bilhões, ante US$ 11 bilhões há seis anos. A China vai superar o Japão como o maior detentor de reservas do mundo, com US$ 980 bilhões. O jornal nota que fundos de pensão e seguradoras no fim do dia vão ter de encontrar algo interessante para investir seus recursos. E os emergentes parecem ser a melhor opção.