Título: Levy deve assumir cargo no BID
Autor: Cláudia Safatle e Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2006, Finanças, p. C10

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, ainda não formalizou uma decisão sobre se deixará ou não o cargo para assumir a Gerência de Avaliação de Eficácia e Planejamento Estratégico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas sua tendência é mesmo voltar a Washington. "Não sei se vou aceitar o convite", disse Levy ao Valor, de Paris, onde está cumprindo uma agenda que começou na Ásia, para falar sobre a economia brasileira e atrair investidores estrangeiros para o mercado de capitais doméstico, especialmente para aplicações em títulos da dívida pública. O cargo foi oferecido ao governo brasileiro pelo presidente do BID, Luiz Alberto Moreno, e faz cerca de 50 dias que o nome de Levy foi indicado formalmente pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a quem cabe cuidar das relações do Brasil com o BID e o Banco Mundial. O anúncio seria feito no final deste mês, mas acabou vazando antes pelo presidente do BID. A delicada situação do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, às voltas com denúncias de corrupção durante o período em que foi prefeito de Ribeirão Preto e, agora, tendo que enfrentar a oposição de seus pares à política econômica, influenciará na decisão de Joaquim Levy. A interlocutores, o secretário teria dito que talvez não seja oportuna sua saída numa hora em que Palocci está sob intenso ataque. Mas alguns auxiliares próximos acreditam que a indecisão é apenas formal, devendo mesmo o secretário aceitar o posto. O motivo que Levy alega é pessoal. Sua família vive em Curitiba e já manifestou vontade de retornar à Washington, onde Levy morava antes de se incorporar à equipe econômica do governo anterior. Se o secretário aceitar o convite do BID, seu sucessor no Tesouro deverá ser o atual secretário-adjunto, José Gragnani. Levy assumiu um papel de extrema relevância na equipe econômica. Participou, desde o início da gestão Lula, da discussão e elaboração das políticas mais sensíveis, seja para o setor de energia, para saneamento básico, e das negociações junto ao Fundo Monetário Internacional, não só no período em que o país estava sob acordo com a instituição, mas dos entendimentos para a escolha de projetos pilotos de investimentos que teriam tratamento à margem dos cálculos das contas públicas. Foi ele quem levantou, no governo, temas polêmicos como a relação entre a taxa Selic e o crédito direcionado, a convivência entre a Selic e a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) do BNDES, e outros aspectos que poderiam estar neutralizando o esforço da política monetária em conter a inflação pela restrição à demanda. Na Esplanada dos Ministérios, não lhe faltam desafetos. É o responsável pelo controle do caixa da União e pela execução das metas fiscais, sempre em pleno acordo com o ministro. Esta política permitiu que o governo acumulasse, este ano, até agora, superávit de 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB), para uma meta, até dezembro, de 4,25% do PIB. Levy, acerta sua ida para o BID numa reunião na quarta-feira com o presidente da instituição. Seu nome chegou a ser cogitado para a substituição do vice-presidente João Sayad, que perdeu a eleição para a presidência em julho deste ano. Na sexta-feira, Moreno divulgou em mensagem interna aos funcionários as mudanças na alta hierarquia da instituição, fazendo um remanejamento dos diretores responsáveis por cada sub-região coberta pela instituição. Mas não mencionou o nome de Levy especificamente. O Brasil perdeu uma posição que deteve ao longo dos últimos 20 anos, o de gerente do Departamento 1, que determina os empréstimos para Argentina, Brasil, Bolívia, Chile e Paraguai. O brasileiro Ricardo Santiago, transferido para Paris, foi substituído pelo argentino Manuel Rapoport. É o cargo ocupado anteriormente por Rapoport que ficará com Levy. O mexicano Carlos Jarque será secretário-geral da instituição. A mexida nos cargos era esperada como reflexo da eleição do ex-embaixador colombiano à presidência. A escolha de brasileiros para o alto escalão da instituição geralmente segue indicações do governo, por conta da divisão de cargos entre os países de acordo com a participação acionária na instituição. Levy tem trânsito nas instituições internacionais em Washington, por ter trabalhado no FMI nos anos 90.