Título: Resultado de janeiro indica acomodação, avalia IBGE
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2006, Brasil, p. A3

A produção industrial brasileira deu uma "freada de arrumação" em janeiro, segundo a interpretação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o resultado negativo de 1,3% apurado em janeiro deste ano em relação a dezembro do ano passado, já depurado dos efeitos sazonais. "O fato de a queda ter sido maior nos setores que puxaram o crescimento no trimestre anterior faz com que vejamos o resultado como uma acomodação, por enquanto", analisou Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do órgão estatístico. O número, somado aos primeiros resultados dos chamados "indicadores antecedentes" de fevereiro já divulgados - crescimento de apenas 0,2% na carga de energia elétrica, queda de 2,6% na produção de veículos e queda de 2,4% no movimento de caminhões nas estradas pedagiadas - levaram o economista Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a dizer que, se as previsões do órgão para a produção industrial neste trimestre e neste ano estiverem erradas, o erro "é para cima". O Ipea previu que a indústria crescerá 1,5% de janeiro a março em relação ao trimestre anterior e 4,3% neste ano, em relação a 2005. Mas Kopschitz está de acordo com Sales, do IBGE: "Aparentemente, foi uma certa compensação pelo forte crescimento de dezembro." No último mês do ano passado, a produção industrial surpreendeu o mercado, apresentando crescimento de 2,3% sobre novembro, que já havia registrado crescimento de 1,3% em relação a outubro. Os dois técnicos concordam que o indicador da produção industrial mês a mês, dessazonalizado, apesar da primeira queda após três meses consecutivos de crescimento, ainda não soa como a abertura de um período de contração. A média móvel trimestral, que funciona como uma curva de tendência, mostrou que a substituição do mês de outubro pelo resultado negativo de janeiro não alterou a trajetória de alta, embora ela tenha ficado em apenas 0,6%, contra 1,2% do trimestre encerrado em dezembro. "O recado da média móvel é: a indústria ainda está crescendo, mas não é nenhuma decolagem", disse Kopschitz. Sales relaciona outros argumentos favoráveis a esse ponto de vista: primeiro, o fato de a queda não ter sido generalizada, tendo atingido 12 dos 23 ramos industriais pesquisados, praticamente a metade; segundo, a queda de janeiro teve como principais causadores segmentos industriais que haviam tido forte crescimento em dezembro. A produção de veículos automotores saiu de um crescimento de 5,6% para uma queda de 7,6%; a indústria farmacêutica passou de uma alta de 8,7% para uma queda de 10,2%; e a produção de máquinas, aparelhos e materiais elétricos saiu de um aumento de 8,1% para uma redução de 6,1%. Tanto o técnico do IBGE quanto o do Ipea consideraram um sinal positivo o fato de a indústria ainda se apresentar em patamar vigorosamente mais elevado do que em janeiro do ano passado. A comparação janeiro a janeiro mostrou crescimento de 3,2% na indústria como um todo, destacando os bens de consumo duráveis e os bens de capital, com crescimento, respectivamente, de 18,4% e de 6,8%. Esse desempenho da indústria de máquinas e equipamentos, aliado a um crescimento de 7,2% da construção civil, também em janeiro sobre janeiro do ano passado, faz com que Sales avalie que as perspectivas para os investimentos neste ano não podem ser consideradas ruins, embora o Ipea, no seu boletim divulgado anteontem, tenha reduzido de 7% para 5,8% sua previsão de crescimento para eles.