Título: Visita acaba sem novos investimentos
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2006, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou ontem a visita oficial ao Reino Unido sem qualquer anúncio de investimentos no Brasil. O governo acredita, porém, que avançou nas negociações para a mineradora Rio Tinto e a gigante farmacêutica GlaxoSmithKline confirmarem projetos no país. O presidente saiu otimista após receber um grupo de empresários britânicos no Palácio de Buckingham, onde se hospedara. Disse ter ouvido "muita muita gente falar com muito carinho" das possibilidades de começarem investimentos no Brasil. Admitiu que "isso agora depende de nós". De fato, um diretor da Rio Tinto, rival da Vale do Rio Doce, disse ao presidente que a empresa tem planos de multiplicar várias vezes sua produção no Brasil, na região de Corumbá (Mato Grosso do Sul), mas que isso continua condicionado a questão legal que há muitos anos afeta investimentos nas regiões de fronteira. Como previsto, Lula respondeu que o governo está buscando uma solução legal, provavelmente um projeto de lei a ser enviado ao Congresso. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Luiz Fernando Furlan, esclareceu que o objetivo é resolver não um problema britânico, mas toda a questão do investimento estrangeiro perto de fronteira. Segundo Furlan, a negociação com a Glaxo para um investimento de US$ 300 milhões na produção de duas vacinas, resolveu a maior parte dos problemas nos últimos 15 dias, mas falta resolver a gradual transferência de tecnologia para a produção de vacinas em laboratórios nacionais. Além disso, investidores nos mercados de capitais se mostraram interessados no próximo lançamento do pacote de 7,5% de ações do Banco do Brasil (cerca de 11.257.677 papéis), da carteira Tesouro, do BNDES e do próprio BB. Furlan disse que o pacote de ações sairá em breve, para dar mais liquidez no mercado. Depois de ter se queixado de que a Grã-Bretanha se distanciou da América Latina e do Brasil desde os anos 30, Lula comparou sua ação para atrair novos investimentos à estratégia de costureiras quando recebem clientes interessados em novas roupas. "Elas mostram um catálogo de coisas boas. E nós queremos mostrar um catálogo de oportunidades". O presidente citou para os britânicos projetos no setor energético, recuperação do sistema ferroviário, licitação de estradas e o pólo gás-químico. Furlan disse que empresas britânicas estão indo para lugares "que não são democráticos", enquanto seus investimentos no Brasil representam apenas 0,2% do total no país. Sobre a construção de sete usinas nucleares, anunciada pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Resende, o presidente disse que não tomou nenhuma decisão, mas que não vai deixar de discutir o tema. E que sua prioridade, no momento, é construir duas hidrelétricas no Rio Madeira e aportar recursos ao biocombustível. (AM)