Título: Dilma defende aumento das taxas de juros
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Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2010, Economia, p. 19

ELEIÇÕES 2010

Com Michel Temer, seu futuro vice, a tiracolo, petista faz estreia no exterior apoiando a autonomia do Banco Central

Nova York ¿ Em sua estreia internacional como candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff não se fez de rogada ontem: atacou a posição mais controvertida de seu principal adversário, o tucano José Serra, na tentativa de conquistar apoio dos investidores estrangeiros. Ao ser questionada sobre a autonomia operacional do Banco Central para definir os rumos da taxa básica de juros (Selic), ela disse ser ¿fundamental¿ que o próximo governante brasileiro mantenha a independência da instituição para garantir a estabilidade macroeconômica do país. Recentemente, Serra causou furor no mercado financeiro ao dizer que o ¿BC não é a Santa Sé¿, ou seja, o banco não é dono da verdade e deve ser questionado quando errar.

A candidata ¿ que vestia a mesma roupa usada dias antes em um encontro com prefeitos em Brasília ¿ foi aplaudida pelos investidores quando elogiou o aumento da taxa básica de juros (Selic) no mês passado pelo BC, de 8,75 para 9,50% ao ano. Ela reconheceu, porém, considerar muito difícil o futuro presidente do Brasil conseguir aprovar, no Congresso Nacional, um projeto dando independência formal ao BC. Na sua avaliação, a proposta enfrentaria uma resistência enorme dos partidos políticos, tanto os da base aliada do governo, quanto os da oposição. O importante, porém, segundo ela, é que a autonomia formal do BC está consolidada, assim como a credibilidade da política monetária, uma vez que as decisões sobre a Selic têm sido tomadas de forma técnica, sem interferências políticas.

Como música para os ouvidos dos investidores, Dilma afirmou também ser favorável à redução gradual da meta de inflação do Brasil nos próximos anos. Em 2010 e no próximo ano, o centro definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 4,5%, podendo oscilar dois pontos percentuais para cima ou para baixo. ¿A redução tem que ser gradual porque nós vivemos em um momento de grande volatilidade e imprevisibilidade¿, assinalou, durante a abertura do encontro A Eleição Presidencial Brasileira em 2010, realizado pela BM&FBovespa.

Seguindo as orientações do presidente do BC, Henrique Meirelles, que pavimentou o encontro com os investidores, Dilma não fez por menos e disparou: ¿Minha mensagem aos investidores estrangeiros é a seguinte: o Brasil permanecerá crescendo com inclusão social e estabilidade macroeconômica, buscando controlar os preços por meio das metas de inflação e mantendo a disciplina fiscal com a redução da dívida¿. Anteontem à noite, ela havia participado de um jantar de gala em homenagem a Meirelles, no Hotel Waldorf Astoria. No evento, a petista fez a primeira aparição pública com seu potencial vice, o deputado Michel Temer (PMDB).

O Brasil permanecerá crescendo com inclusão social e estabilidade macroeconômica, buscando controlar os preços por meio das metas de inflação e mantendo a disciplina fiscal com a redução da dívida¿

Dilma Rousseff,candidata à Presidência da República

O número 9,50 % Taxa básica de juros

PAC deve continuar

Nova York ¿ O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que recebeu o prêmio de Personalidade do Ano, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, defendeu a continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no próximo governo. Para ele, as obras contidas no principal projeto do segundo mandato de Lula são ¿muito importantes¿ para aumentar a produtividade da economia, ao eliminar os gargalos para que o país possa crescer de modo sustentável. ¿Por essa razão, é importante manter o PAC, com foco em infraestrutura, como energia e transporte, bem como no capital humano, com indispensável melhoria na educação¿, afirmou.

Primeiro presidente do BC a receber tal premiação em 40 anos, Meirelles não economizou nos elogios ao país. Segundo ele, ao passar no teste da mais recente crise global, o Brasil mostrou seu poder econômico, com comportamento muito diferente dos vistos em outras crises. Para ele, a forte expansão econômica hoje está baseada no emprego e na renda, na expansão do crédito e no aumento da produção. ¿Todos esses avanços são resultado dos esforços feitos para atacar as principais vulnerabilidades da nossa economia¿, disse.

Com Dilma Rousseff presente na plateia da cerimônia em que foi homenageado, Meirelles pregou a ¿continuidade¿ das atuais políticas econômicas a partir de 2011. ¿Há, hoje, no Brasil um apoio popular e político à estabilidade econômica e, em particular, à inflação baixa e estável¿, frisou. Ele destacou ainda que, nos últimos anos, em viagens internacionais, sempre ouvia a frase de que o Brasil era ¿o país do futuro¿. ¿Estou muito feliz em estar diante de vocês e dizer que, de um país do futuro, o Brasil se tornou um país futurista, mostrando a saída da pobreza para um modelo de crescimento sustentável com justiça social e liberdade política¿, destacou.

A seu ver, essa grande mudança foi possível porque o Brasil adotou uma rigorosa reforma fiscal e monetária que só trouxe benefícios. ¿Como resultado, os prêmios de risco do país foram reduzidos, levando a taxas de juros reais mais baixas¿, afirmou. Para o presidente do BC, na base do sucesso econômico, estão o tripé superavit primário, câmbio flutuante e metas de inflação, além do maior acúmulo de reservas internacionais.