Título: Obama avisou que manteria sanções
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 22/05/2010, Mundo, p. 27

Impasse nuclear

Em carta a Lula, presidente americano advertiu que acordo com o Irã não era o bastante

Poucos dias antes de embarcar rumo a Teerã para fechar o acordo sobre a troca de urânio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma carta na qual o colega americano, Barack Obama, confirmava que seguiria seu cronograma para aprovar novas sanções contra o Irã. No documento, Obama também acusava o regime islâmico de ¿dizer uma coisa¿ para países como Brasil e Turquia e outra à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), segundo afirmaram ao Correio fontes diplomáticas. Ontem, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, assegurou que Teerã também ¿seguirá o cronograma¿, e entregará na segunda-feira uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informando sobre o acordo de troca de urânio fechado com Brasil e Turquia uma semana antes.

¿Nós observamos o Irã dar sinais de flexibilidade ao senhor e outros, mas, formalmente, reiterar uma posição inaceitável pelos canais oficiais da AIEA¿, afirma Obama na carta, segundo a agência Reuters. Segundo o presidente americano, ¿para iniciar um processo diplomático construtivo¿, o Irã precisaria transmitir à AIEA um compromisso construtivo de engajamento, ¿por meio dos canais oficiais¿. Para Brasil e Turquia, isso poderia ser resolvido com a carta que Teerã se comprometeu a enviar à agência. Obama, contudo, lembra que, enquanto esse compromisso não for cumprido, Washington ¿insistirá na aprovação de sanções¿. Ainda de acordo com a Reuters, que teve acesso à carta, o americano assegura que se o Irã concordasse em enriquecer o urânio fora do país ¿ o que foi conseguido no acordo ¿ ¿geraria confiança e diminuiria as tensões regionais¿.

O Conselho Supremo de Segurança nacional anunciou, por meio de um comunicado, que o Irã cumprirá o estabelecido no acordo e enviará a carta à AIEA nos próximos dois dias. Amorim também disse que recebeu do colega iraniano, Manouchehr Mottaki, a garantia de que o prazo será cumprido ¿ e de que seu país continua disposto a negociar, apesar das ameaças feitas pelo vice-presidente do Parlamento, Mohammadreza Bahonar. ¿Ameaça gera ameaça, e sanções são ameaças. O melhor é deixar as ameaças de lado e fazer o acordo¿, disse o ministro brasileiro.

Amorim, que passou os últimos três dias em contato com chanceleres de grande parte dos países-membros do Conselho de Segurança, disse que todos incentivaram o Brasil a continuar trabalhando por uma solução negociada. Depois de falar por telefone com os colegas de Áustria, Japão, Líbano, Bósnia, Nigéria, Turquia, Reino Unido, Rússia e China, ontem foi a vez de Guido Westerwelle, da Alemanha ¿ país que integra o grupo ¿cinco mais um¿.

Iniciativa importante Em um discurso em Istambul, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que o acordo tripartite foi ¿uma iniciativa importante para a solução de tensões internacionais sobre o programa nuclear do Irã por meios pacíficos¿. Ban disse esperar ¿que essa e outras iniciativas abram caminho para uma solução negociada¿, e acrescentou que o próximo passo é um parecer ¿técnico e profissional¿ da AIEA sobre o acordo.

Em visita a Tóquio, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou acreditar que o conselho aprovará uma ¿resolução forte¿ contra o Irã. E o governo Obama tem se esforçado para conseguir o apoio dos demais membros do organismo. Ontem, Washington suspendeu as sanções contra três instituições russas que o governo Clinton havia acusado de ajudar o Irã a desenvolver armamentos nucleares. Duas delas, a Universidade de Tecnologia Química Dmitri Mendeleyev e o Instituto de Aviação de Moscou, estavam sob sanções desde 1999. Já a Rosoboronexport, estatal de exportação de armas, estava sob embargo havia dois anos.

Retorno sem filhos As mães dos três alpinistas americanos detidos há dez meses no Irã tiveram de partir de Teerã, na noite de ontem, sem os filhos. O governo iraniano não autorizou Shane Bauer e Josh Fattal, de 27 anos, e Sarah Shourd, de 31, a retornarem aos Estados Unidos. Os jovens foram presos em 31 de julho de 2009, perto da fronteira entre a República Islâmica e o Iraque, sob a acusação de espionagem. Eles teriam passado para o lado iraniano por engano, após se perderem durante uma excursão no Curdistão iraquiano. Durante o encontro de quinta-feira pela manhã, o primeiro desde sua prisão, as três mães imploraram às autoridades iranianas que os libertassem, como ¿um gesto humanitário¿.