Título: Multimercados ganham apostando na baixa do dólar
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2006, EU &, p. D1

A queda do dólar não trouxe apenas perdas ao investidor. Quem soube apostar na tendência certa da moeda está rindo à toa. Alguns fundos multimercados acumulam ganhos importantes nos últimos meses, em parte por posições vendidas em dólar, que nada mais são do que vender o ativo sem de fato tê-lo, apostando na queda da moeda. De uma maneira simplificada, no vencimento do contrato, o fundo compra a moeda mais barato para devolvê-la e fica com a diferença. O fundo Claritas Hedge ilustra bem essa estratégia. Em janeiro, o fundo chegou a ter 70% do seu patrimônio em posições vendidas em dólar. Isso trouxe um retorno para a carteira em janeiro de nada menos que 6,24%, ou 430% do CDI, o segundo melhor desempenho do fundo em apenas um mês, desde que foi criado, em 1999. "Estamos apostando no real desde o início do ano passado", diz o sócio da Claritas Investimentos, Marcelo Karvelis. As posições em câmbio, segundo ele, respondem por 80% do resultado do fundo neste ano. Assim como o Claritas Hedge, muitos outros fundos e também as tesourarias dos bancos souberam aproveitar a queda do dólar. "Os fundos que acompanham de perto os movimentos macroeconômicos foram os que mais ganharam", diz Karvelis. Apesar de acreditar que a tendência do dólar ainda é de queda, como o espaço para cair já é menor, Karvelis reduziu as posições vendidas em dólar para 25% a 30% do patrimônio do fundo. "Podemos ganhar mais agora com a queda dos juros, por meio de papéis prefixados ou os de índices de preços", completa ele. A alta recente do dólar refletiu exatamente a redução das apostas dos investidores estrangeiros e locais na força do real. Mas, pelo menos da parte dos estrangeiros, a grande maioria ainda coloca muito dinheiro na queda do dólar. É o que aparece nas posições vendidas dos mercados futuros de dólar e de cupom cambial. Os estrangeiros tinham um total vendido de US$ 14,2 bilhões em 16 de fevereiro, um dos maiores valores da história, diz Antônio Madeira, da MCM Consultores. Foi nessa época que o dólar chegou perto dos R$ 2,10, um dos menores preços desde 2001. No dia 8, essa posição já tinha caído para US$ 12,5 bilhões, uma redução de US$ 1,7 bilhão. Já os investidores locais, em geral fundos multimercados, que tinham US$ 3 bilhões, reduziram as posições para US$ 200 milhões, ou seja, eles compraram US$ 2,8 bilhões. Somando os dois grupos de investidores, o total comprado no mercado futuro e de cupom chega a US$ 4,5 bilhões, o que explica a alta do dólar. "Foi um ajuste à turbulência externa e a um dólar que já tinha caído muito", diz Madeira.