Título: Merkel sinaliza apoio a encontro de cúpula
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2006, Brasil, p. A5

A chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, mostrou "disposição política de se engajar"' no encontro de cúpula de chefes de Estado e de governo que vem sendo proposto pelo Brasil para tentar concluir a Rodada Doha. Ao receber ontem, em Berlim, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, Merkel não excluiu apoio para a iniciativa, desde que tenha objetivo muito claro e ocorra no momento politicamente adequado. Amorim explicou que o Brasil também considera que o encontro deve ser realizado quando se tiver clareza sobre três ou quatro pontos concretos da negociação que vão precisar da decisão política de de mais alto nível, e acha que "o momento está se aproximando"'. O ministro argumentou junto a Merkel que o processo de negociação na Organização Mundial do Comércio (OMC) está chegando a seus limites, com sucessivas reuniões onde os países tentam extrair concessões que não são satisfatórias nas áreas agrícola, de produtos industriais e serviços. A chefe de governo da Alemanha levantou a ''expectativa'' de avanços em todas as áreas, incluindo a abertura do mercado brasileiro para fornecedores europeus de bens industriais e serviços. Amorim confirmou que o país "está disposto a fazer nossa parte, com proporcionalidade", e esperando "passos ambiciosos" também dos parceiros. "Devemos, no caso do Brasil, fazer alguns sacrifícios, não ser tão beneficiado quanto os países pobres, mas os mais ricos precisam fazer mais sacrifícios", acrescentou. "A chanceler entendeu bem, ela sabe da importância de concluir a rodada como parte da governança mundial", disse Amorim por telefone ao Valor. A audiência com Merkel foi acertada sexta-feira, após comunicado conjunto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro-ministro Tony Blair. Indagado sobre a possibilidade de que a cúpula ocorra à margem do G-8, em julho, em São Petersburgo, Amorim disse que até lá é preciso obter "massa crítica", ou seja, apoio suficiente. Notou que os negociadores na OMC ainda vão trabalhar sobre o impacto de abertura dos mercados agrícola, de produtos industriais e serviços. Em Brasília, o presidente Lula reiterou ontem, durante discurso ao lado do presidente da Guatemala, Oscar Bergel, a necessidade da união dos líderes mundiais para evitar o fracasso na Rodada Doha da OMC. Lula reforçou que o impasse técnico no debate sobre a redução dos subsídios agrícolas leva à necessidade de que os líderes mundiais se sentem para conversar sobre o assunto. (colaborou Paulo de Tarso Lyra, de Brasília)