Título: Palocci perde apoio da oposição e vive seu pior momento no governo
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2006, Política, p. A9

Acossado por denúncias de corrupção e atacado por integrantes do governo e do PT insatisfeitos com a política econômica, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não terá mais o apoio da oposição para se manter no cargo. As últimas denúncias e mesmo o comportamento político do ministro concorreram para o fim da trégua do PSDB e do PFL em relação ao ministro. Palocci vive, na avaliação de assessores do presidente Lula, o seu pior momento no governo. "Já fizemos muita coisa por ele. Agora, o que vier, veio", disse ontem o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), lembrando que, em novembro, quando a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, entrou em atrito com Palocci, ele só não caiu porque a oposição o sustentou. "Ele perdeu peso. Não há nenhuma presunção (de que as denúncias sejam verdadeiras), mas ele gastou o estoque de credibilidade que tinha com a gente", acrescentou Virgílio. Na semana passada, depoimentos dados à CPI dos Bingos pelo motorista Francisco Chagas Costa e pelo delegado Benedito Antônio Valencise dificultaram a situação de Palocci. Na avaliação de um parlamentar tucano que pediu para não ser identificado, o ministro se desgastou muito e tem muita "explicação moral" a dar. A oposição, disse ele, não tem a obrigação de defendê-lo das acusações, uma vez que nem o Palácio do Planalto o faz de forma contundente. A oposição se irritou também com o comportamento recente do ministro, que teria cogitado assumir o comando da campanha de reeleição de Lula. Quando percebeu o descontentamento, Palocci teria, inclusive, telefonado para alguns senadores, interessado em descartar essa possibilidade. Se fosse para a campanha, o ministro seria o alvo principal dos ataques da oposição. Desagrada também ao PSDB e ao PFL o fato de o governo usar Palocci como anteparo de proteção. Em mais de uma ocasião, o ministro teria dado telefonemas para parlamentares da oposição, pedindo para que atenuassem as críticas ao governo e ao presidente Lula. No PFL, o presidente da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC), sempre foi contra a linha de proteção a Palocci adotada por pefelistas e tucanos. Por isso, sempre se recusou a conversar com o ministro. Em conversas com amigos, Bornhausen justificou sua postura, lembrando que Palocci deve explicações não apenas de seus atos na prefeitura de Ribeirão Preto, mas principalmente de fatos relacionados à sua gestão como ministro. O senador costuma citar episódios envolvendo a Caixa Econômica Federal (GTech), a Casa da Moeda, o Instituto de Resseguros do Brasil e o Banco do Brasil (Visanet), estatais ligadas ao Ministério da Fazenda. Na opinião de um importante pefelista ouvido pelo Valor, "não há como continuar com qualquer linha de proteção a Palocci". O ministro teria perdido o apoio de três senadores do PFL que sempre o defenderam - Antonio Carlos Magalhães (BA), Rodolpho Tourinho (BA) e Heráclito Fortes (PI). Na quarta-feira, dia em que haverá reunião da Executiva do partido, o assunto Palocci deverá estar em pauta. "Ele vai viver uma situação difícil no dia 31 (data-limite para desincompatibilização do cargo): se ficar, continuará na linha de tiro; se sair, pode ser indiciado", disse um pefelista. No governo, a situação de Palocci foi debatida ontem, no Palácio do Planalto, durante a reunião da coordenação política. Lá, o presidente e os participantes do encontro concluíram que o presidente Lula, e não apenas Palocci, está "sob ataque da oposição". Apesar disso, não ficou acertado que linha de ação o governo adotará em defesa do ministro e do governo. Um auxiliar do presidente está preocupado com a desarticulação do governo. Na sua opinião, o governo ainda não enxergou a gravidade da situação. "O motorista mentiu, o delegado não apresentou provas à CPI e ficou numa situação difícil, mas o governo perdeu novamente o controle da situação", diz esse auxiliar. "A recuperação da popularidade do Lula deixou a oposição sem alternativa." O Planalto segue confiando em Palocci e, segundo um ministro ouvido pelo Valor, não há qualquer possibilidade de ele deixar o governo. "Não adianta: mesmo com todas essas denúncias, ele não vai sair. Não temos que tirá-lo", assegurou. Assessores do Planalto lembram que, toda vez que surgem denúncias contra o ministro, a primeira certeza que surge é a de que ele será substituído. "A não ser que haja uma evidência inequívoca de sua participação em algum dos episódios denunciados, nada muda. Quem vai querer carimbar a demissão do ministro da Fazenda? Nem a oposição é tão corajosa", provocou um assessor. A avaliação, contudo, não esconde a preocupação em relação aos fatos recentes. Um petista com trânsito tanto no Planalto quanto na Fazenda mostrou apreensão com as denúncias feitas pelo motorista Francisco Chagas à CPI dos Bingos. Ele garantiu ter visto Palocci na casa alugada em Brasília pelos ex-assessores da Prefeitura de Ribeirão Preto para fazer lobby. "Foi uma declaração impressionante, já que Palocci sempre jurou jamais ter pisado na tal casa", espantou-se o petista. Ele não quis apostar em mudanças na condução da Fazenda, mas foi categórico: "A única coisa que eu sei é que os depoimentos na CPI dos Bingos, na semana passada, não foram nada positivos para o Palocci". Apesar disso, a avaliação predominante em Brasília é a de que Palocci está novamente sozinho. Como aconteceu na crise anterior envolvendo o ministro Palocci, a política econômica conduzida por ele voltou a ser atacada duramente por integrantes do governo e do PT. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)