Título: Pandemia de gripe pode reduzir fluxos de capital, diz o FMI
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2006, Internacional, p. A11

Relatório Impacto econômico da doença pode ser significativo, especialmente para países vulneráveis

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou ontem que uma eventual pandemia de gripe aviária pode reduzir o fluxo de capital para países emergentes. O estudo sobre o possível impacto econômico do alastramento da doença entre humanos destaca ainda a redução do comércio e do transporte internacionais e a pressão sobre os sistemas de saúde. Mas ressalta que o impacto deve ser de curto prazo e de rápida recuperação. "O fluxo de capital para mercados emergentes pode diminuir como resultado da combinação de uma possível ruptura na operação dos sistemas financeiros, perda de confiança em países mais vulneráveis e mudança brusca na disposição de assumir riscos", diz o relatório "A Economia Global e o Impacto Financeiro de uma Pandemia de Gripe Aviária e o Papel do FM". Segundo Charles Blitzer, diretor-assistente do Departamento de Mercado de Capitais do Fundo, os mercados podem ficar voláteis e sofrer fortes variações na entrada de recursos externos. "Não há razões para dizer que a América Latina seja mais vulnerável do que outras regiões na possibilidade de queda do fluxo de investimentos. Especialmente porque alguns países, como o Brasil, estão tomando medidas para reduzir a vulnerabilidade dos estoques de suas dívidas a choques externos." "Se a pandemia for severa, o impacto econômico será substancial", disse o Fundo. Por ora, a gripe é transmissível entre aves. Mas teme-se que o vírus H5N1 possa sofrer mutação e se propagar entre humanos. O FMI alerta que a gravidade dos efeitos econômicos de uma pandemia depende justamente da intensidade da doença, o que não pode ser previsto. De modo geral, o relatório diz que economias mais sólidas sofrerão o impacto da doença, mas devem se recuperar mais rapidamente. Em economias mais dependentes de capitais externos, os efeitos podem ser mais duradouros. Baseado na experiência passada com a Sars (síndrome respiratória aguda grave), o FMI prevê que o investimento direto estrangeiro será pouco afetado, mas grandes investimentos podem ser adiados. Ao mesmo tempo, acrescenta, uma mudança nas preferências de risco poderia levar a modestas fugas de capital, principalmente nos países onde os preços dos ativos estiverem relativamente altos ou onde a conta corrente depender muito dos preços das commodities e de exportação de serviços. Para os especialistas, uma pandemia similar à da gripe espanhola - que matou 40 milhões de pessoas em 1918 - provocaria forte queda na atividade econômica mundial devido a alguns fatores, como uma alta taxa de ausência do trabalho. As pessoas se fechariam em casa por medo da contaminação, para cuidar de doentes, ou porque seriam proibidas de sair. Embora não exista previsão de quantos trabalhadores deixariam seus postos, as altas taxas de ausência ao trabalho poderiam interromper a oferta de serviços importantes para o sistema financeiro, incluindo pagamentos, compensações, liquidações e negociações. Também haveria interrupções nos transportes e no comércio global, já que os países imporiam restrições para controlar o avanço do vírus. Isso, por sua vez, pode elevar o risco de falência de expor empresas financeiramente vulneráveis. Outro setor que sofreria forte retração seria o turismo, e a recuperação seria mais difícil que em outros atividades. A demanda por produtos e serviços turísticos poderia cair drasticamente, e os investimentos seriam suspensos. Segundo o FMI, superada a pandemia, o consumo e a média de horas trabalhadas poderiam até superar os níveis anteriores. O ritmo da recuperação econômica, porém, dependeria da confiança de consumidores e empresários. Países com sistemas fiscal e de saúde mais fracos teriam maior dificuldade de recuperação. O FMI alerta ainda para outro risco: a pressão sobre o orçamento dos países, que terão de gastar mais com saúde. Países que já têm déficit ficariam ainda mais no vermelho, à medida que tiverem de importar medicamentos e suas exportações caírem com a queda generalizada no consumo. Nesse cenário, diz o FMI, os bancos centrais devem garantir liquidez adequada e instituições financeiras precisariam agir com cautela, flexibilizando regulamentações quando e onde for necessário.