Título: Palocci diz que não dirige em Brasília para reagir à acusação de caseiro
Autor: Ricardo Balthazar e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Política, p. A6

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, procurou transmitir tranqüilidade ao comentar ontem as novas revelações sobre seu envolvimento com um grupo de assessores que trabalhou com ele na época em que foi prefeito de Ribeirão Preto (SP), mas evitou discutir de forma detalhada a natureza desse relacionamento. Numa teleconferência com sócios e clientes da consultoria Tendências, ele preferiu lançar dúvidas sobre o depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa, que trabalhava numa mansão alugada pela turma de Palocci em Brasília e disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" ter visto Palocci na casa "umas dez ou vinte vezes". O caseiro afirmou que viu o ministro chegar várias vezes dirigindo o próprio carro. Palocci disse que nunca dirige em Brasília. "Eu não guio aqui em Brasília, nunca guiei em Brasília", afirmou. "Ou estou com carro oficial ou com o carro da minha esposa, que guia." E acrescentou: "Isso, de forma bastante singela, mostra que a informação não é correta." O ministro também sugeriu que haveria uma contradição entre o depoimento de Francenildo e o do motorista Francisco das Chagas Costa, que há uma semana disse à CPI dos Bingos ter visto Palocci na mansão em pelo menos três ocasiões, de dia. "[Francenildo] não me viu de dia, me viu de noite", argumentou Palocci, sem aprofundar o raciocínio. Segundo o motorista e o caseiro, a casa era usada pelos ex-assessores de Palocci para promover festas com garotas de programa e distribuir dinheiro de origem duvidosa. Freqüentavam o lugar o ex-secretário de Governo de Ribeirão Preto Rogério Buratti, o ex-diretor da Caixa Econômica Federal (CEF) Ralf Barquete, morto em 2004, e o ex-secretário particular de Palocci na Fazenda, Ademirson Ariosvaldo da Silva. Foi a primeira manifestação pública de Palocci sobre o assunto desde que surgiram as novas revelações sobre seu relacionamento com a turma de Ribeirão Preto. Ele tem dito que nunca freqüentou a mansão alugada por seus ex-assessores, e uma nota distribuída pelo ministério reafirmou isso ontem. A conversa de Palocci com sócios e clientes da Tendências pôde ser acompanhada por jornalistas, mas eles não podiam fazer perguntas. Palocci almoçou ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse ter acertado com ele que não deixará o governo para trabalhar na sua campanha à reeleição. "Expressei minha vontade de não me envolver diretamente na campanha e isso corresponde à vontade do presidente", afirmou. "Posso dizer, de forma definitiva, que não estarei na campanha, estarei no Ministério da Fazenda fazendo o meu trabalho." O ministro atribuiu as novas revelações sobre seu relacionamento com os ex-assessores ao clima de campanha eleitoral. "A tendência é que haja um período mais caloroso no debate político e [o presidente] me sugeriu que eu tenha a cabeça fria", disse Palocci. "Vou aqui trabalhar para a minha cabeça ficar sempre fria." Pela manhã, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), manifestou uma impressão diferente na saída de um encontro com o ministro. Ideli disse que Palocci estava "enfurecido com as denúncias". O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que confia na versão apresentada por Palocci. "Tem uma pessoa falando determinadas coisas e ele está falando o contrário", disse. Palocci foi tratado com condescendência na teleconferência e recebeu elogios de todas as oito pessoas que lhe dirigiram perguntas. "Apesar do calor desse momento, Vossa Excelência continua gozando de total credibilidade dos mercados, dos analistas, dos que avaliam sem paixões e de forma isenta a forma como Vossa Excelência vem conduzindo a política macroeconômica", disse o ex-ministro Mailson da Nóbrega, sócio da Tendências. O ministro aproveitou para falar bem da sua gestão na condução da economia e traçar um cenário otimista para o futuro. "Estou muito seguro de que teremos uma eleição sem turbulências", disse. "Apesar da crise política, a estabilidade foi preservada e isso é resultado da maturidade dos agentes políticos e econômicos."