Título: Prefeito temeu derrota em prévia
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Política, p. A10

O prefeito José Serra só desistiu da indicação do PSDB depois de concluir que corria o risco de perder uma disputa prévia no Diretório Nacional para Geraldo Alckmin. E mesmo que vencesse, numa disputa acirrada e por pequena margem de votos, de acordo com cenários desenhados por ele e alguns de seus principais correligionários, o custo de derrotar o governador de São Paulo seria demasiado alto". Ou seja, Serra seria candidato num partido dividido, como ocorreu com a frustrada tentativa de 2002. Muito embora só tenha formalizado ontem sua desistência, o prefeito já estava com a decisão tomada na segunda-feira, quando, pela primeira vez, admitiu publicamente que era candidato. No fim de semana, o plano de vôo de Serra previa a declaração de apoio a Geraldo Alckmin já na segunda-feira. Tanto que a admissão da candidatura, no final da tarde, surpreendeu até colaboradores mais próximos. Àquela altura, a expectativa era que Serra declararia apoio a Alckmin e se recolheria à prefeitura, onde então, nos próximos 15 dias, aguardaria por apelos tucanos para disputar o governo do Estado, o que aceitaria "docemente constrangido", segundo a expressão de um auxiliar, por volta do final do mês. É o Plano B de Serra e ele está mantido, apesar das declarações em contrário do tucano. Serra julgou necessário admitir publicamente a candidatura, embora soubesse que a fatura já estava liquidada, para que sua desistência mais tarde não venha a ser interpretada como medo de enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em franca recuperação de popularidade. Sabia que Alckmin não desistiria de disputar a indicação numa prévia no Diretório Nacional. Ao mesmo tempo, ao assumir que só seria candidato por consenso, jogou nas costas do governador a responsabilidade por uma eventual divisão do partido. A forma como o governador Geraldo Alckmin venceu a disputa com Serra deixa seqüelas no PSDB. Além do próprio prefeito, outros serristas notórios, como o líder na Câmara, deputado Jutahy Júnior (BA), não apareceram para o anúncio oficial da indicação de Alckmin como o candidato tucano à Presidência, nas eleições de outubro. Os termos da nota de apoio a Alckmin divulgada ontem foram cuidadosamente calculados pelo prefeito. São seqüelas que Alckmin e seus aliados pretendem contornar nos próximos dias com muita conversa, mas especialmente com a demonstração de que o governador de São Paulo é efetivamente um candidato tão competitivo quanto Serra e que pode derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem o nome do prefeito nas próximas pesquisas, Alckmin acredita que rapidamente alcança esse objetivo. O governador de São Paulo também teve de fazer concessões para conseguir a indicação tucana. A principal delas foi a admissão de que, se for eleito, pode não concorrer à reeleição em 2010, uma exigência colocada à mesa de negociação pelo governador de Minas, Aécio Neves, também apoiada por José Serra: assim como o governador mineiro, o prefeito de São Paulo vislumbra uma nova possibilidade de concorrer à Presidência da República na sucessão de Lula ou do próprio Alckmin, na hipótese de o tucano bater o petista em outubro. O compromisso de Alckmin, aliás, foi decisivo para que Aécio mudasse de posição: no início, ele acompanhava o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no apoio a Serra. O presidente do partido, senador Tasso Jereissati, também admitiu durante algum tempo a indicação do nome do prefeito de São Paulo. Depois passou a articular em favor de Alckmin. Avalia-se entre dirigentes do PSDB que Serra poderia ter sido indicado pela cúpula tucana, e vencido a disputa, se tivesse se declarado candidato logo no início das conversas, quando era o favorito. O tempo só jogou a favor de Alckmin, que, ao final, contava com o apoio das seções mais poderosas do PSDB: São Paulo, Minas, Goiás e Ceará.