Título: Serra mostra descontentamento com decisão
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Política, p. A10

Eleições Por meio de nota, prefeito afirma que "senso de responsabilidade" o impediu de insistir em candidatura

O sinal dado por José Serra ao candidato proclamado pelo PSDB, Geraldo Alckmin, foi claro: o adversário partidário não terá seu apoio pessoal. O descontentamento de Serra foi tamanho que ele não participou da cerimônia em que Alckmin foi anunciado como representante oficial do partido na disputa pela Presidência da República. Seu único comentário público veio por meio de uma nota, em que limitou-se a dizer que Alckmin é "habilitado" para vencer a eleição. Um dia antes do anúncio partidário, Serra declarou que aceitava concorrer à Presidência, desde que não houvesse prévia no PSDB. Diante da situação delicada, Alckmin consultou Serra antes e depois da divulgação tucana. No começo da tarde de ontem, o governador paulistano o procurou na sede da Prefeitura de São Paulo, para uma conversa de 40 minutos. Nada fez Serra mudar de idéia e o prefeito não quis ir ao diretório estadual, onde foi realizada a divulgação da candidatura alckmista, a cerca de cinco quilômetros da prefeitura. Ressentido, Serra fez uso de uma nota para falar com a imprensa. Sobre a candidatura de Alckmin, nenhuma referência sobre a possibilidade de o governador paulista ser o indicado para tocar projetos de desenvolvimento nacional ou colocar em prática o espírito do PSDB. Apenas na penúltima linha de um texto de quatro parágrafos, referiu-se ao colega e disse considerá-lo "habilitado para vencer a eleição e ser o próximo presidente". Por fim, afirmou que cerra fileiras com o partido em torno da candidatura do governador. Na nota, Serra disse que seu "senso de responsabilidade" o impediu de colocar "acima de qualquer aspiração pessoal" o objetivo partidário e agradeceu "de coração" as manifestações positivas de tucanos e da população. O prefeito afirmou que colocou-se à disposição do PSDB para assumir a candidatura, mas o desejo de Alckmin pela realização de prévias "traria sérios riscos de divisão no partido, a começar por São Paulo". Depois do anúncio de sua candidatura, Alckmin voltou à prefeitura, acompanhado do secretário geral do PSDB, Eduardo Paes. Os tucanos conversaram por cerca de 1h20min e, na saída, o silêncio imperou. Até mesmo o governador, acostumado a sempre falar com a imprensa, pediu para seus assessores avisarem que ele tinha ido embora dez minutos depois de sua saída. Aliados fiéis de Serra fizeram questão de destacar que o prefeito não levou a candidatura adiante em nome da unidade partidária. "Na verdade, Serra não desistiu. Ele colocou seu nome à disposição sem prévia e a direção nacional achou que não seria possível chegar a uma solução. Ele achou que não valia a pena", disse um amigo do prefeito. Um interlocutor serrista relatou reuniões em que o prefeito analisou a possibilidade de uma consulta partidária junto aos diretórios estaduais e animou-se com a "situação confortável" para obter força dentro do partido. Mas analisou que o espaço ocupado por Alckmin dentro do PSDB e a possibilidade de Serra não ser aclamado pelos tucanos, sem ter garantias que sustentassem sua saída da prefeitura paulistana, fizeram com que ele recuasse. Fora da disputa nacional, ganhou força a possibilidade de Serra concorrer ao governo estadual. Na nota divulgada, não há nenhuma referência às especulações. Com amplo trânsito no gabinete do prefeito, Walter Feldman, secretário da gestão, descartou a hipótese e afirmou que Serra "nunca abriu espaço" para isso. O pré-candidato Paulo Renato Souza disse que desistirá de sua candidatura para dar espaço a Serra, mas o vereador José Aníbal não demonstra tal desapego à sua candidatura.