Título: Acuado, Vázquez busca apoio dos vizinhos
Autor: Paulo Braga De Gualeguaychu e Fray Bentos
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Especial, p. A16

Apesar do acordo anunciado no sábado entre os governos da Argentina e do Uruguai, os ativistas que se opõem à construção das fábricas de celulose pareciam não ceder e mantinham ontem os bloqueios nas estradas que ligam os dois países. O governador da província (Estado) argentina de Entre Rios, Jorge Busti, se reuniu com eles para tentar convencê-los a aceitar uma trégua. A definição sobre a continuação ou não do protesto seria tomada em assembléia na noite de ontem. Mas, mesmo que o bloqueio seja suspenso, há dúvidas entre os uruguaios sobre a capacidade e a vontade do governo argentino de manter as estradas abertas caso os manifestantes mudem de idéia e decidam reativar o protesto. Desde o início de seu governo, o presidente argentino, Néstor Kirchner, tem se negado a usar força policial para dissolver manifestações e desbloquear vias, salvo em raríssimas ocasiões. É ainda menos provável que o faça neste caso, porque os manifestantes de Gualeguaychu e Colón contam com apoio popular. A decisão de manter o bloqueio foi tomada depois de o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, declarar que seu governo não negociará enquanto os bloqueios persistirem. Os termos foram mais duros do que os anunciados publicamente após a reunião de sábado no Chile, quando Vázquez e Kirchner propuseram uma trégua no conflito, com o fim dos bloqueios e a paralisação simultânea das obras por um período máximo de 90 dias. O anúncio do trégua gerou fortes críticas contra o esquerdista Vázquez por parte da oposição uruguaia, que o acusou de ceder à pressão dos argentinos. Na reunião, os dois presidentes também se comprometeram a realizar um novo estudo de impacto ambiental na região onde estão sendo construídas as fábricas. Paralelamente à tentativa de acordo, o presidente uruguaio iniciou na segunda-feira uma viagem que inclui diversos países da região e cujo principal objetivo é conseguir apoio político nessa disputa com a Argentina. Amanhã Tabaré deve chegar ao Brasil para discutir o assunto. Fontes do governo brasileiro disseram ao Valor que as autoridades brasileiras acompanham o caso com preocupação, principalmente pelo potencial de que o incidente abale os laços do Uruguai com o Mercosul. A questão é particularmente delicada num momento em que cresce o debate no Uruguai sobre a negociação de um acordo de livre comércio com os EUA, o que na prática poderia significar a saída do país do bloco. Mas, pelo menos por enquanto, o governo brasileiro descarta atuar como mediador na disputa, por entender que isso poderia inflamar ainda mais os ânimos. Além do Brasil, a viagem de Tabaré, iniciada na segunda, inclui Bolívia, Venezuela, Chile e Paraguai. Nos encontros com os presidentes da região, Vázquez tenta mostrar que seu país é a parte mais prejudicada no conflito, com o objetivo de que a opinião dos vizinhos pese a seu favor. A estratégia de Vázquez é dar maior visibilidade ao problema no âmbito regional. Já os argentinos preferem que a questão seja tratada de forma bilateral. (PB)