Título: Redes investem para ser nacionais
Autor: Chris Martinez
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Empresas &, p. B5

Farmácias Na tentativa de ganhar escala e diluir custos, elas migram para outros Estados

Primeiro, elas copiaram o bem-sucedido modelo das lojas de conveniência, que vendem um bocadinho de tudo em um mesmo espaço. Depois, passaram a oferecer serviços variados: do pagamento de conta de luz ou telefone à tintura nos cabelos. Agora, querem ganhar o país e sepultar, de vez, a arraigada característica de que farmácia é um negócio familiar e exclusivamente regional. Numa investida nunca vista antes no Brasil, as grandes redes passaram a invadir o terreno uma das outras e competir em pé de igualdade para fisgar o freguês local. O movimento assemelha-se ao vivido pelo varejo de alimentos na década de 90. A diferença é que, no caso das farmácias, não há uma febre de aquisições - embora tenha uma operação aqui e outra ali. Para essas redes, cruzar fronteiras é uma questão de sobrevivência. "Somente com escala conseguimos suportar o aumento de custos, que tem sido superior ao crescimento da receita", diz Ari Girotto, diretor executivo da Drogarias Pacheco. Assim como no ramo de alimentos, no varejo de farmácias há um duro embate nas negociações com a indústria. Quanto maior o volume, portanto, maior a chance de reduzir preços. As margens do setor, ao mesmo tempo, são apertadas, beirando a 1,5% do faturamento. "Nos Estados Unidos, as margens do varejo chegam a 3%", diz Antônio Carlos de Freitas, diretor comercial da Drogasil, cuja expansão, por enquanto, está focada em Minas Gerais e no interior paulista. Um outro fator que influenciou a nacionalização das redes foi a ameaça da entrada de grupos estrangeiros - um temor que vem caindo por terra. A Farmacias Ahumada, maior rede da América Latina, acaba de deixar o Brasil, ao vender a paranaense Drogamed, comprada há cinco anos, para Hugo Rodríguez, seu principal executivo. "O Brasil tem um sistema de tributação diferente", diz Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma, associação do setor. A cearense Pague Menos roubou a dianteira na corrida pela nacionalização. Depois de se estabelecer em Estados vizinhos, partiu para uma agressiva investida em mercados mais competitivos: desembarcou em São Paulo, Rio e nos três estado do Sul. Hoje, é a maior rede nacional: são 272 lojas em 16 estados. A disposição do grupo chamou a atenção do setor e, por isso, seus executivos decidiram silenciar sobre os planos de expansão. Controlada pelo grupo Jamyr Vasconcellos, a Pacheco era, até recentemente, uma rede carioca. Ganhou um leve sotaque mineiro depois de 2002, com a compra de 16 farmácias da Batista Oliveira, de Juiz de Fora, e foi reforçada ano passado com a aquisição da Santa Marta, com 27 lojas em Belo Horizonte. O próximo passo será rebatizar a Santa Marta com a bandeira Pacheco. "Estamos ainda testando o consumidor e não queremos fazer nenhuma mudança brusca em um rede que tem mais de 60 anos", diz Girotto. A cautela tem sua razão. É da capital mineira uma das mais tradicionais cadeias do Estado, a Araújo - que ainda não arredou o pé para outros localidades. A paulistana Droga Raia, que tem em sua "placa" a tradição de 100 anos de história, zarpou para o Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Quer consolidar a operação nesses mercados para, em seguida, testar outras praças. Das 59 últimas inaugurações, 37 foram fora de São Paulo. E, das 14 unidades a serem inauguradas este ano, 10 serão longe da capital. "Há uma saturação do mercado em São Paulo e outros Estados começaram a ser atraentes", diz Antonio Carlos Pipponzi, presidente da Droga Raia. Ele observa, no entanto, que migrar para outras regiões exige alguns cuidados e muitas habilidades. A Droga Raia, por exemplo, "exporta", desde São paulo, todos os os funcionários que ocuparão postos mais elevados. Apenas o mais baixo escalão é contratado localmente. "Em uma segunda etapa, formamos esse grupo no local." Batizada com o nome do seu estado natal, a Drogaria São Paulo escolheu o Ceará - onde o bairrismo seria menor do que em outras regiões - para crescer. A tática foi acertada e a Drogaria São Paulo ganhou a simpatia dos consumidores cearenses, que não se importaram com a sua "nacionalidade" e adoraram seus descontos. Quem não gostou foi o Sindicato do Comércio Varejista que moveu uma ação civil pública contra a rede paulistana. "Alegam que não estamos cumprindo com o TAC (termo de ajuste de conduta) que impõe teto de 15% para os descontos", diz Marcos Paiva, superintendente da Drogaria São Paulo. A briga está na Justiça e a rede prepara-se para abrir uma outra loja na capital cearense. Uma opção que a rede estuda, no momento, segundo Paiva, é usar a sua bandeira Farmax para estrear em outras regiões.