Título: Brasil espera o fim do embargo russo a SC e RS
Autor: Arnaldo Galvão e Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Empresas &, p. B12
O governo brasileiro espera a chegada, ainda hoje, de um comunicado oficial da Rússia informando que as importações de carnes bovina e suína produzidas nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão liberadas. A informação foi dada ontem pelo secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel. Por conta do ressurgimento da aftosa no Brasil, a Rússia bloqueou as importações de animais vivos, carne suína e bovina de Mato Grosso do Sul , Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina em 13 de dezembro passado. Segundo o secretário, já circulou ontem na Europa a notícia da liberação, com base em relatórios técnicos que ainda teriam de ser submetidos às autoridades russas. Portanto, seria uma questão de tempo o anúncio oficial da retomada de parte do comércio de carnes entre os dois países. Maciel acredita que depois da liberação das exportações de carnes gaúchas e catarinenses, outros Estados poderão voltar a vender para a Rússia. A expectativa é que a suspensão do embargo a outros Estados, com exceção de Paraná e Mato Grosso do Sul, seja anunciada durante a visita do primeiro-ministro russo, Mikhail Fradkov, ao Brasil em abril. O dirigente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, avalia que, se for confirmada a liberação das exportações de carnes para a Rússia, os maiores beneficiados serão os produtores de carne suína, concentrados em Santa Catarina. Ele observa que, apesar do embargo da Rússia, o país foi o maior comprador de carne bovina brasileira em dezembro, janeiro e fevereiro. Segundo Nogueira, em 2005, foram vendidas à Rússia 295 mil toneladas de carne bovina. No ano anterior, foram embarcadas 154 mil toneladas do produto ao país. Em dezembro de 2005, segundo a CNA, o Brasil vendeu 12,5 mil toneladas de carne bovina aos russos, um aumento de 89,92% sobre dezembro de 2004. Em janeiro deste ano, foram embarcadas 24 mil toneladas. O aumento, dessa vez, foi de 957,31%. Em fevereiro, os russos importaram 23,12 mil toneladas de carne bovina brasileira, o que representou aumento de 1001%, segundo a CNA. Antônio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), disse ter recebido informações na semana passada de que o Ministério da Agricultura da Rússia teria enviado um documento ao governo brasileiro concordando que Rio Grande do Sul e Santa Catarina estariam aptos a retomar os embarques. Conforme Camardelli, há também negociações avançadas com Argélia e Chile, e a perspectiva é que os três países retomem as compras de carne bovina no curto prazo, especialmente após a decisão da Argentina de suspender suas exportações do produto para controlar a inflação no país. "O afastamento da Argentina deve levar os países importadores a uma reavaliação mais célere dos embargos impostos ao Brasil", disse. Ele diz ainda que o novo caso de mal da "vaca-louca" nos EUA pode fazer com que clientes exigentes, como Japão e Coréia do Sul, avaliem o Brasil com mais "maleabilidade". Por enquanto, a Abiec mantém a previsão de crescimento nas exportações de até 10% em volume e de 15% em receita. Em 2005, o setor exportou 2,39 milhões de toneladas equivalente-carcaça, gerando receita de US$ 3,14 bilhões.