Título: 'Treasuries' e Alckmin animam mercados
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Finanças, p. C2

A pesada queda dos juros americanos e a indicação de Geraldo Alckmin para a disputa presidencial pelo PSDB permitiram aos mercados afastar, à tarde, o desconforto causado pelas novas denúncias contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O dia foi de muita volatilidade, mas os números de fechamento foram positivos. Para a superação do nervosismo matinal foi decisiva a reviravolta registrada na rentabilidade dos papéis de dez anos do Tesouro americano. Sozinha, a indicação do governador, embora o tucano predileto do mercado, não teria forças para promover a mudança. As taxas dos treasuries de 10 anos - títulos que são referência operacional para todos os mercados mundiais - tombaram de 4,77% do fechamento de segunda-feira para 4,69% ontem. O motivo foi a divulgação de vendas varejistas nos EUA aquém do esperado. Elas caíram 1,3% em fevereiro, um número pior do que o consenso firmado pelos analistas. E mostram que a economia não está hiperaquecida a ponto de amparar um movimento mais vigoroso de alta dos juros básicos. Depois desse dado, os bancos passaram a acreditar que o Federal Reserve (Fed) poderá interromper o arrocho monetário iniciado em junho de 2004 após subir o juro para 4,75% no próximo dia 28. Essa nova perspectiva autorizou forte alta das bolsas de Wall Street. O Dow Jones fechou em alta de 0,68%, enquanto o Nasdaq saltou 1,26%. A Bovespa acompanhou. Encerrou o pregão com avanço de 2,03%, e índice a 37.541 pontos.

Dólar supera desconforto com novas denúncias

O dólar abriu tenso com o aperto do cerco ao ministro Palocci. Chegou a subir 0,75%, para R$ 2,15, com a zeragem de posições vendidas insufladas pelo rumor de que o ministro não iria resistir. Aos olhos das instituições, o seu virtual sucessor, o secretário-executivo da Fazenda Murilo Portugal, parece ter menos cacife político para rechaçar pressões eleitorais destinadas a elevar gastos públicos. Mas o câmbio se acalmou depois que, no rastro do declínio dos treasuries, expressivo fluxo de investimento externo foi notado. E o dólar fechou a R$ 2,1260, em baixa de 0,37%. O fluxo foi tão acentuado que, no seu costumeiro leilão de compra de dólares do meio da tarde, o Banco Central foi obrigado a aceitar 20 propostas encaminhadas pelos bancos. Adquiriu moeda pelo preço de R$ 2,1260. Após as persistentes e incisivas quedas dos últimos quatro pregões, o mercado futuro de juros da BM&F já parou ontem à espera da ata da última reunião do Copom, a ser publicada amanhã. As baixas foram mínimas. O contrato para a virada de abril para maio cedeu de 16,35% para 16,34%. Mesmo corte de 0,01 ponto foi registrado para os contratos relativos às viradas do semestre e do ano, com taxas respectivas de 15,80% e 15,01%. O swap de 360 dias travou na taxa de 14,90%. Sem um incentivo explícito do Copom não cairá abaixo de 14,85%, patamar que irá demarcar uma nova fase para a economia: a do juro real de um dígito. A 14,85%, o swap irá embutir taxa de 9,99% acima do IPCA projetado para o mesmo período, de 4,42%.