Título: Brasil é prioridade na estratégia de crescimento do UBS
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, Finanças, p. C14

Novo Rumo CEO do banco suíço vem pela primeira vez ao país para visitar clientes e funcionários em SP

O banco suíço UBS, o maior gestor de recursos do mundo, com US$ 2,1 trilhões sob administração, resolveu focar sua estratégia de crescimento nos chamados BRICs - Brasil, Rússia, Índia e China, revela seu chief executive officer (CEO), Peter Wuffli. Não é à toa que o executivo suíço veio pela primeira vez ao país para conhecer clientes, funcionários e a sede do banco em São Paulo. "O Brasil tem hoje uma tremenda oportunidade de continuar em um caminho de crescimento mais estável, de abertura dos mercados e de criação de riqueza líquida", disse, em entrevista ao Valor, acompanhado de Eduardo Oliveira, CEO do UBS no país, Martin Liechti, responsável pela gestão de recursos nas Américas, e assessores. Segundo Wuffli, "a história do crescimento dos IPOs (lançamento inicial de ações) e do mercado acionário no país é muito poderosa". Ele explica que o Brasil tem "muitas famílias empreendedoras" cujas necessidades passam pelos negócios de banco de investimento e de gerenciamento de fortunas do UBS. "As famílias fazem IPO de suas empresas, sob a coordenação do nosso banco de investimento, obtêm dinheiro com esses IPOs e investem suas fortunas conosco", explica. "Isso se encaixa no nosso modelo de negócios muito bem." Hoje, o UBS atua em duas áreas principais: o chamado "wealth management" - que inclui gestão patrimonial para pessoas físicas e de grandes fortunas - e a área de banco de investimento. O wealth management representa 50% da atividade do banco. "Entre os maiores grupos internacionais, nós somos claramente o mais focado", afirma. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a receber, em 2004, uma plataforma do wealth management em moeda local. Wuffli admite uma "lacuna" no país da área de gerenciamento de recursos para terceiros - asset management - , atividade importante para o UBS global. Em meados de 2001, o suíço vendeu a sua operação de cerca de R$ 300 milhões administrados ao francês BNP Paribas. "Essa foi uma difícil decisão que eu tomei, mas que não teve nada a ver com o Brasil", afirma. Faltava "massa crítica" para a operação se tornar rentável, diz, e as prioridades do banco, na época, eram outras: o banco de investimento nos Estados Unidos e a gestão de fortunas na Europa. "Hoje, nós não venderíamos esse negócio", conta. No Brasil, o banco de investimento do UBS sofreu baixas importantes no ano passado, com executivos sêniores indo parar no Itaú BBA, entre eles Jean-Marc Etlin, que dividia com Paul Knight a chefia na área de banco de investimento para a América Latina. O cargo de Etlin permanece vago. Apesar disso, segundo Wuffli, os lucros do banco de investimento no país foram recordes em 2005, graças ao destaque na atividade de lançamento de ações. O UBS, no entanto, caiu do quarto lugar em 2004 para o décimo primeiro lugar em 2005 no "Ranking Valor de Captações Externas", que reúne os bancos que mais lideraram empréstimos e bônus no exterior para o Brasil. A corretora do banco no país também perdeu participação em 2005: se mantinha entre as três maiores em volume de negócios na Bovespa, mas caiu para a sexta posição. Segundo Wuffli, a estratégia de crescimento do banco é predominantemente orgânica. Ele não descarta, no entanto, aquisições de empresas de atividades complementares e com cultura simular, desde que atrativas do ponto de vista financeiro. A prioridade para os BRICs foi definida há cerca de dois anos, conta. "No ano passado, nós revisamos atentamente os negócios nesses países e tivemos uma apresentação no nosso conselho", conta. "Decidimos então que deveríamos aumentar nosso apetite, nosso compromisso com esses países", afirma Wuffli. Em setembro, Wuffli visitou pela primeira vez a Índia. No mesmo mês, o UBS anunciou investimento de US$ 500 milhões na parceria com o Bank of China, para o desenvolvimento de produtos e serviços na área de títulos e de banco de investimento para os clientes no país. O banco também finaliza negociações com o governo chinês sobre planos de investimentos de US$ 210 milhões em esforços de restruturação da Beijing Securities em troca de participação acionária. No Brasil, o capital do UBS vai ser ampliado de US$ 30 milhões para US$ 120 milhões. "Nós traremos ainda mais capital à medida que a oportunidade for chegando", comenta Liechti. Sob a gestão de Wuffli, que começou sua carreira como jornalista e tem hoje 48 anos, o UBS apresentou em 2005 crescimento de resultados em quatro trimestres consecutivos. Os lucros líquidos do quatro trimestre foram recordes e mais do que triplicaram com relação ao mesmo trimestre em 2004, para US$ 4,97 bilhões. "No gerenciamento de grandes fortunas, nós não somos apenas o maior, mas também o que cresce com mais velocidade", diz. Só em 2005, foram incorporados US$ 115 bilhões em novos recursos gerenciados, ampliando os ganhos com comissão paga pelos clientes. O crescimento principal foi entre os investidores com US$ 50 milhões ou mais. "Há uma tendência global de concentração de riqueza", diz.