Título: Estrangeiros tiram R$ 1,6 bi da Bovespa de fevereiro para cá
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2006, EU &, p. D1

Depois de trazer R$ 2,6 bilhões para a Bovespa só em janeiro e atingir uma participação recorde de 35% nos negócios no mês passado, os estrangeiros mudaram a rota e passaram a tirar dinheiro do mercado brasileiro, especialmente neste mês. De fevereiro para cá, as saídas líquidas já totalizaram R$ 1,6 bilhão - R$ 1,044 bilhão só neste mês até dia 9. O movimento acompanhou a percepção de que uma nova rodada de aperto monetário mundial, capitaneada por Estados Unidos, Europa e Japão, está em curso, o que fez com que os grandes "hedge funds" ajustassem seus portfólios. A saída dos estrangeiros fez o Ibovespa acumular queda de 4% em fevereiro e março. Na pesquisa realizada entre 3 e 9 de março com 197 gestores de todo o mundo, a Merrill Lynch identificou que há no ar uma certa preocupação com o impacto que os aumentos de juros terão na atividade econômica mundial, levando a uma redução das posições em ativos de maior risco, bem como do prazo dos investimentos. Mais da metade dos entrevistados citou que a qualidade de ganhos nos mercados emergentes piorou de um ano para cá e que as ações já não têm mais preços tão convidativos. Uma boa parcela dos analistas acredita, no entanto, que essa é uma saída temporária. "É um movimento corretivo e nada indica uma inversão dos fluxos ou algum revés na economia mundial entre 2006 e 2007", diz Hiram Maisonnave Jr., vice-presidente do BNP Paribas. Ele dá o exemplo do petróleo, acima dos US$ 60, e que apesar de recorde, pela primeira vez não espalhou recessão pelo globo. A favor do Brasil pesa o fato de o país estar trilhando o caminho para ganhar a classificação de "investment grade" (grau de investimento), o selo que avaliza a aplicação dos grandes fundos de pensão americanos. Com a disciplina fiscal e o recente ajuste no setor externo, Maisonnave Jr. espera a elevação das notas de crédito brasileiras até 2010, mas não se surpreenderia se ela viesse antes. O vice-presidente da área de gestão de recursos do BNP e da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid), Marcelo Giufrida, avalia que não será um aumento de 0,25 ou 0,50 ponto percentual nas taxas globais que tirarão o brilho dos mercados emergentes. Para ele, os juros reais na casa dos 8% garantidos por títulos indexados ao IPCA, por exemplo, ainda são suficientemente atrativos para o capital externo. Além disso, diz, a isenção do imposto de renda para aplicações em papéis públicos brasileiros tende a trazer os juros de longo prazo para baixo, o que influi na avaliação das empresas listadas na bolsa. Como a taxa de desconto usada nas análises fundamentalistas passa a ser menor, o preço considerado justo para as ações aumenta e o potencial de valorização dos papéis também. (AC)