Título: Ellen Gracie é eleita para substituir Jobim na presidência do Supremo
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Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Brasil, p. A2

A ministra Ellen Gracie, de 58 anos, foi eleita presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) ontem. Primeira e única mulher a ingressar no Supremo, ela será também a primeira a presidir a mais alta corte do país. Sua eleição seguiu a tradição que reserva o cargo de presidente ao ministro mais antigo que ainda não dirigiu a casa. Ellen era a vice do atual presidente, ministro Nelson Jobim, que se aposentará no próximo dia 30. "A previsibilidade do resultado nesta eleição não tira a solenidade do momento, nem o torna menos comovente a quem recebe a suprema honra de conduzir os destinos do Supremo Tribunal Federal", disse Ellen, com a voz embargada, logo após a eleição. Ela recebeu oito dos nove votos, uma vez que o ministro Gilmar Mendes não estava presente à sessão. O único voto contrário, também de acordo com a tradição, foi o dela própria. Mendes foi escolhido vice-presidente. Ele terá de abandonar a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, pois não é permitido acumular os dois cargos. No seu lugar, quem assumirá o comando do TSE é o atual vice, o também ministro do Supremo Marco Aurélio Mello. Nelson Jobim aproveitou a eleição de Ellen para elogiar a colega, lembrando que ela será a primeira mulher a presidir o Supremo e outras deverão seguir o seu caminho. "Foi fixado agora um padrão de charme e beleza que precisa ser respeitado", brincou. Ellen tomará posse como presidente o dia 27 de abril. O mandato é de dois anos. Como presidente do Supremo, ela vai comandar também o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Para isso, terá de ser sabatinada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, provavelmente na semana que vem. Ellen foi indicada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso para ocupar a vaga deixada por Octávio Gallotti no STF. A ministra venceu uma dura batalha para chegar à indicação. Na disputa estavam o então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, e Gilmar Mendes, atualmente ministro do STF, e na época advogado-geral da União. A ministra enfrentou fortes resistências no Judiciário, depois que seu nome foi veiculado como favorito ao STF. Os ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) falaram abertamente que se fosse para indicar uma mulher , o presidente deveria privilegiar as duas ministras que faziam parte do tribunal na época: Eliana Calmon e Fátima Nancy Andrighi. Diziam tratar-se de uma questão de hierarquia, já que o STJ é superior ao Tribunal Regional Federal (TRF), onde trabalhava Ellen. A presidente eleita do STF formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem especialização em antropologia social. Foi integrante do Ministério Público Federal de 1973 a 1989. (Com Agência Globo)