Título: Para crescer é preciso fazer o ajuste fiscal, dizem economistas
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Brasil, p. A4
Conjuntura Seminário promovido pela Câmara dos Deputados reuniu analistas de diferentes correntes
Economistas de correntes tão diversas quanto Luciano Coutinho, da Unicamp, Joaquim Cirne de Toledo, da USP, e José Márcio Camargo, da PUC-RJ, mostraram ontem, em um seminário da Câmara dos Deputados, que concordam em um ponto, quando se trata dos obstáculos ao crescimento sustentado no Brasil: é urgente um ajuste nas contas fiscais brasileiras, tarefa essencial também para assegurar uma maior redução nas taxas de juros. Sobre esse último ponto, Coutinho faz uma ressalva: "A taxa, hoje, já tem gordura para cortar", independentemente da situação das contas do governo. O economista Ricardo Carneiro, da Unicamp, que integrou a equipe de economistas do presidente Lula durante a campanha de 2002, também disse considerar essencial um ajuste nas contas fiscais, mas, para ele, esse ajuste significa reduzir mais rapidamente a conta de juros, com um corte mais profundo nas taxas definidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para garantir maior investimento público, necessário ao crescimento, será preciso mudar a composição dos gastos, mas isso se deve fazer preferencialmente pelo corte dos juros, e não dos gastos correntes. Posição oposta foi defendida por José Márcio Camargo, que, em um discurso irônico, criticou as comparações entre o Brasil e países emergentes como a China e a Índia, que têm mantido forte crescimento, mas têm gastos irrisórios com a rede de previdência social, elevadas taxas de poupança e indicadores de inflação bem mais baixas. No Brasil, o gasto público equivale a 40% do Produto Interno Bruto, o país é a quinta economia mais fechada ao comércio externo, e a nação em que a dívida equivale à maior percentagem do PIB, entre os países emergentes, relacionou o economista, para defender maior pressão sobre cortes no setor público, com ajustes na previdência e medidas como a transferência, para o ensino fundamental, de recursos hoje destinados às universidades públicas, que, defende ele, deveriam cobrar mensalidades. "O Brasil é um contra-exemplo, deveria ter investido em educação, em vez de estradas, nos anos 50", argumentou Camargo. Camargo acrescentou que a economia brasileira é uma das mais fechadas do mundo - ou seja, uma das que tem a menor relação entre o comércio externo e o tamanho total da economia. "Há 25 anos, o Brasil era a quinta economia mais fechada do mundo. Hoje, o Brasil continua a quinta economia mais fechada do mundo apesar de a relação entre comércio externo e tamanho do PIB ter passado de 12% para 30% nos últimos dez anos", disse. No caso da China, a relação comércio externo/PIB é de 75%. Para Luciano Coutinho, a economia brasileira está preparada para um longo período de crescimento. Para dar solidez a esse crescimento, porém, é "inadiável" conter o crescimento das despesas públicas, o que dará mais espaço para aumento do investimento do setor público e para a redução das taxas de juros, defendeu. O governo precisa, porém, intervir mais decisivamente na taxa de câmbio, para evitar que as repercussões do real valorizado sobre as exportações afetem negativamente as contas externas e "frustrem" as condições de desenvolvimento.