Título: Alckmin promete surpreender quem o considera conservador
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A5

Eleições Governador diz que crescimento econômico não é suficiente para reduzir desigualdade

O governador de São Paulo e candidato do PSDB a presidente da República, Geraldo Alckmin, buscou em seu primeiro dia de campanha não-oficial fugir do perfil que lhe é imputado de "candidato preferido dos empresários" e assimilar uma postura mais progressista em seu discurso. Durante lançamento de um projeto de ensino à distância no Sebrae, o presidente da Fiesp pediu ao governador que, se eleito, concentre-se em promover o crescimento econômico do país. Em resposta, Alckmin defendeu o crescimento econômico, mas deu um tom "social" ao discurso ao dizer que o crescimento sozinho não é suficiente para reduzir as diferenças sociais. "O caminho para ter emprego é o crescimento econômico. Mas, às vezes, o país pode crescer sem que sejam diminuídas as distâncias sociais. Melhora para o pobre um pouco, mas para o rico muito mais. Então, o melhor caminho para a redução da desigualdade é a educação." Em seguida, afirmou não ter "compromisso com privilégios" e que, caso vença as eleições, irá conciliar crescimento econômico com justiça social, "melhorando a vida dos pobres e estimulando, principalmente, a educação no Brasil". Alertou ainda que aqueles que o apontam como sendo de direita e conservador irão se assustar. "O susto será no bom sentido porque nós vamos chacoalhar as estruturas. Não tenho compromisso com o imobilismo. Temos de ter um país onde os filhos possam ter uma vida melhor do que a dos pais, de mobilidade social. Vamos chacoalhar as estruturas". Antes, porém, no primeiro compromisso do dia - a abertura do 10º Encontro Mundial de Jovens Empreendedores - falou a uma platéia de mil pessoas, formada em sua maioria por empresários, para os quais fez um discurso de defesa do liberalismo econômico. "O governo não gera emprego, quem gera emprego é a iniciativa privada. O governo cria as condições possíveis, estimulantes, para que a atividade e o empreendedorismo floresçam". Sobre a sucessão estadual, o governador não descartou qualquer possibilidade de escolha do candidato. Disse ser o ideal a busca do entendimento, mas que caso seja necessária a realização de prévias entre os quatro pré-candidatos, que ela ocorra. Disputam a indicação do partido o secretário municipal da Casa Civil de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira; o deputado federal Alberto Goldman; o vereador paulistano José Aníbal e o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza. O prefeito de São Paulo e preterido pela legenda na escolha do candidato a presidente, José Serra, também é cotado. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), já afirmou que Serra é o preferido da sigla para a disputa e que cabe a ele decidir se sai ou não candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Alckmin ontem reforçou essa tese. "Acho o prefeito um ótimo candidato. Mas isso envolve uma decisão pessoal sua". E, em seguida, deu continuidade aos elogios que desde ontem tece ao prefeito: "Quero destacar o desprendimento, o espírito público, o espírito partidário do prefeito Serra". O governador negou, aliás, que tenham sobrado rusgas entre os dois devido ao processo de definição do candidato tucano a presidente. "Nunca tivemos um relacionamento tão bom. Eu e o Serra falamos o mesmo idioma e trilhamos o mesmo caminho." O governador disse pretender que a a campanha eleitoral se paute por projetos, e não por disputas partidárias. Nesse sentido, rejeitou o rótulo de "anti-Lula". "Sou pró-Brasil e não sou anti-ninguém. Não vou fazer campanha contra ninguém e tenho respeito pessoal pelo presidente Lula."