Título: Governistas aumentam pressão contra prévia no PMDB
Autor: Heloisa Magalhães e Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A6

A guerra interna do PMDB em torno do lançamento ou não de candidatura própria a presidente da República chegou a um patamar crítico. A ala governista do partido, liderada pelos senadores Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, e José Sarney (AP), aumentou a pressão sobre integrantes da Executiva Nacional para convocar uma reunião para hoje, na qual tentariam adiar as prévias do dia 19, que escolherão o candidato ao Palácio do Planalto. A reação dos pré-candidatos Anthony Garotinho e Germano Rigotto foi dura. Em nota, chamaram de "traição" e "ação conspirativa" a manobra dos governistas. Uma das conseqüências do confronto de ontem foi a articulação do grupo de Garotinho para tentar destituir o líder da bancada, Wilson Santiago (PB), que, pressionado pelos governistas, acabou dando a assinatura decisiva para a convocação da reunião da Executiva. "Quem bota, tira. Vamos ver até amanhã", afirmou o ex-governador do Rio, ao lado de Temer. Ele se referia ao fato de Santiago ter recebido apoio do seu grupo político para ser líder. Para destituir o líder, eram necessárias 42 assinaturas. Ao longo do dia, circulou a informação de que o apoio já era bem superior, mas a destituição do líder não havia sido formalizada até a noite. A primeira articulação do líder começou cedo, quando o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), recebeu Renan, Sarney, o senador Ney Suassuna (PB), líder no Senado, e os deputados Jader Barbalho (PA) e Geddel Vieira Lima (BA) em sua casa. O grupo insistiu no adiamento das prévias, alegando a necessidade de aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a obrigatoriedade ou não de os partidos políticos obedecerem a regra da verticalização nas coligações eleitorais deste ano. "Estamos buscando a unidade partidária. Não temos um candidato nacional com competitividade, mas temos 20 candidatos fortes nos Estados. Se lançarmos candidato e a verticalização for mantida, as alianças ficam inviabilizadas", afirmou Sarney. Além da conversa com Temer, os governistas lutaram o dia todo para conseguir na executiva o apoio necessário ao adiamento. Se a reunião da Executiva for realmente realizada hoje, nove dos seus 16 integrantes têm de votar a favor. Já estava decidido que o ministro Saraiva Felipe e Tadeu Filippelli, secretário estadual do Distrito Federal, ambos deputados licenciados, reassumiriam seus mandatos para votar a favor do adiamento. Os governistas encontravam dificuldade em convencer o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que foi pressionado durante todo o dia. Depois da conversa com Renan e seu grupo, Temer consultou Rigotto e Garotinho, que marcaram ato na sede da presidência do partido para reagirem à articulação e reafirmarem a realização das prévias. "Não aceitaremos a ação conspirativa daqueles que, no intuito de preservar cargos e benesses políticas particulares, tentam violentar e inviabilizar um processo altamente democrático, em que as bases pemedebistas, depois de anos de manipulação, são chamadas a decidir sobre o futuro do nosso partido", diz a nota assinada pelos dois pré-candidatos. Garotinho acusou o grupo de Renan e Sarney de estarem "a serviço do governo", para impedir que o PMDB lance candidato próprio a presidente. (RU)