Título: Escolha de vice expõe fratura regional no PFL
Autor: Heloisa Magalhães e Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A6

A estratégia do PFL para as eleições presidenciais começa a ser melhor delineada hoje, no Rio, com a reunião entre o presidente nacional do partido Jorge Bornhausen e o prefeito carioca Cesar Maia, escolhido até agora como o nome pefelista para disputar a sucessão de Lula. Próximo a José Serra, Maia já havia declarado, no início de dezembro, que se o prefeito paulistano fosse o candidato ele não concorreria. E foi crítico a Alckmin caracterizando o governador de São Paulo como um nome "fraco" para disputar a presidência e que o PSDB está com uma "aposta de alto risco". Em e-mail respondendo ao pedido de entrevista ao Valor, o prefeito baixou o tom e escreveu: "As opiniões anteriores cessaram. Agora o PSDB tem um nome e o PFL começará a analisar esta conjuntura em base a esta decisão. Amanhã (hoje) o senador Bornhausen estará comigo aqui no Rio, às 15h para este ponto de partida". Pela manhã, durante visita à Cidade da Música, no Rio o prefeito disse: "O que nós queremos é o melhor para o PFL, o melhor para o Brasil. Já que o diretório colocou o meu nome em dezembro de 2004, o presidente Bornhausen vem pessoalmente, em nome da executiva, perguntar a minha opinião a respeito do quadro geral e da própria candidatura", afirmou segundo gravação divulgada pela prefeitura. Defendeu que se caso o PFL faça aliança com o PSDB deve não se restringir à estratégia montada com Fernando Henrique Cardoso de apenas ocupar a Vice-Presidência mas deve buscar também participação direta do governo, inclusive no planejamento de estratégias. "Nós precisamos tentar um acordo programático, mas não podemos decidir isso antes da data de desincompatibilização, quando o governador Paulo Souto, eu mesmo e outros, podemos tomar a decisão de nos colocarmos como reserva do PFL para uma candidatura alternativa ou para uma composição com o governador Alckmin", disse. Avaliou que a candidatura do governador Alckmin "abre espaços e PFL sabe disso". "O partido tem feito pesquisas de opinião. E nos cabe pensar se este espaço deve ser ocupado pelo PFL ou se o partido deve se somar ao governador Alckmin para que este espaço não seja ocupado por ninguém. Isso nós vamos discutir nas próximas quatro, cinco semanas", afirmou. Segundo o prefeito carioca, há ainda pontos indefinidos como a questão da verticalização e a fase de desincompatibilizações: "Depois, vamos iniciar um processo de discussão de um documento programático. Ninguém vai somar tempo de televisão. A partir desse documento programático, que o PFL vai discutir com as suas lideranças, com a sua direção, com seus diretórios, nós apresentaremos estes elementos para discussão com o PSDB. Nós precisamos ter um Banco Central independente, para essa taxa de juros cair. Então, elementos estruturais e não conjunturais que vão ser discutidos nesse documento. A partir daí, o PFL discute o caminho dele, se vai ser uma composição com o PSDB". Ontem, em um almoço organizado pelo líder da bancada na Câmara, Rodrigo Maia, Bornhausen recebeu delegação dos deputados para dar andamento às negociações com o PSDB. Mas os deputados defenderam que o senador não apresse os entendimentos, para valorizar a participação do partido na aliança. De outro lado, o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), subiu à tribuna para pedir pressa nas negociações. "O PFL vai marchar unido e vai ouvir suas lideranças, mas acho que quanto mais pressa, melhor. Esse processo tem que estar concluído até 31 de março, prazo final para desincompatibilização", disse ACM. Os nordestinos estão especialmente preocupados em deslanchar a campanha de Alckmin, com uma estratégia especial para a região, onde Lula é forte e o governador paulista, desconhecido. Logo depois de ser anunciado, Alckmin telefonou para alguns parlamentares, como os senadores José Jorge (PE) e José Agripino (RN) - os dois nomes mais citados como prováveis companheiros de chapa de Alckmin. Com os dois, mostrou preocupação em intensificar a campanha no Nordeste.