Título: Gustavo Franco elogia política fiscal do governador
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A7

A preocupação do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, desde anteontem candidato do PSDB à Presidência da República, com o "desperdício" de recursos públicos, manifestada no seu primeiro discurso como candidato oficial, foi solidificada há pouco menos de um mês, quando ele participou de uma reunião com mais de economistas reunidos no Rio de Janeiro pela Casa das Garças, sob a coordenação do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Edmar Bacha. A Casa das Garças é uma instituição privada de estudos comandada por economistas oriundos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) tradicionais aliados do PSDB. Alckmin foi o primeiro a falar e apresentou um estudo intitulado "Ética e Eficiência na Administração Pública" com 'power point'. Esse fato impressionou os presentes, por não ser tão comum um político se preparar tecnicamente para se apresentar num ambiente de economistas. Político fala de improviso, nem sempre calcado em dados técnicos, como destacaram economistas ouvidos pelo Valor. "Alckmin mostrou ser um adepto da rigidez fiscal, mas mostrou também ter bom humor para censurar os excessos de recomendações no mesmo sentido vindo dos economistas", disse Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos convidados do evento. Franco contou que, depois de ouvir sete dos doze oradores previstos desfiarem o rosário de temas fiscais, ele (Alckmin) brincou: "Quando ouvimos economistas falando assim, parece ser a receita de perder a eleição, mas estou certo que é exatamente o contrário". Naquele momento, em que o próprio Gustavo Franco estava com a palavra, o governador pediu que mudassem de assunto, que falassem também de outros temas, como câmbio e juros, arrematando com um simpático sinal de enfado: "Do ponto de vista fiscal, nós convergimos inteiramente". Franco, que tem no currículo a gestão cambial na primeira fase da sobrevalorização do real, que desaguou na desvalorização de janeiro de 1999, não deixou a peteca cair. "Câmbio baixo, governador, significa salário alto", teria dito, segundo um dos presentes à reunião. Apesar de conviver com outras correntes de economistas, como Luiz Carlos Bresser Pereira, Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos Mendonça de Barros, Alckmin parece ter saído satisfeito com o que ouviu dos seus interlocutores da Casa das Garças, onde o pensamento dominante é oponente das idéias desenvolvimentistas, avaliou Franco. "Não tenho dúvidas de que ele seguirá o que ouviu na Casa das Garças", afirma. Um dos presentes, o economista Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), contou que a maior parte das perguntas feitas pelo governador paulista aos economistas que compareceram ao evento foi dirigida aos temas monetário e cambial. Outro convidado ao encontro da Casa das Garças, que não quis se identificar, disse que lhe causou forte impressão a ênfase com que Alckmin ressaltou sua posição de herdeiro do governador Mário Covas, morto em 2001, tido até por adversários como um modelo de político ético e ponderado. Segundo esse participante, Alckmin teria mostrado ser um herdeiro não só do pensamento, mas da postura "serena" de Covas, daí porque esse economista achar que a disputa do governador de São Paulo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tende a ser um embate entre dois estilos opostos: O racional, de Alckmin, e o emocional, do presidente.