Título: Mercado comemora escolha de Alckmin
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A7

Eleições Com governador de SP na disputa, analistas prevêem menor volatilidade por causa do processo eleitoral

O mercado financeiro comemorou a escolha de Geraldo Alckmin, seu preferido, para concorrer à Presidência da República pelo PSDB. Com a disputa entre ele e Lula, "nós deveremos ter um processo eleitoral calmo, do ponto de vista de oscilações nos preços dos ativos financeiros, em forte contraste com 2002", disse o economista chefe do ABN Amro Real, Mário Mesquita. Em consultas informais feitas pelo Valor, banqueiros, operadores e economistas já vinham manifestando sua preferência pelo governador de São Paulo, apesar de sua posição menos privilegiada nas pesquisas de opinião do que o prefeito José Serra. O potencial de crescimento da candidatura de Alckmin não é desprezível, lembra Mesquita, e ele deverá ser um "desafio real" ao presidente Lula. Ele é menos identificável com o governo Fernando Henrique do que Serra e tem baixa rejeição, lembra especialista de banco nacional. Economista, Serra tenderia a gerir a política econômica pessoalmente e trazer mais incerteza e volatilidade de preços, com seus discursos muitas vezes obscuros. Já o médico Alckmin tenderia a agir mais como Lula, deixando que técnicos aceitos pelo mercado financeiro conduzam a política econômica. Ele tenderia a terceirizar a condução da economia, na definição de economista-chefe de banco nacional. Alckmin é "menos autoritário e menos intervencionista que José Serra", disse, em relatório divulgado ontem, a economista chefe do banco UBS, Victoria Werneck. Segundo ela, Alckmin é considerado "um negociador paciente, que ouve sugestões de políticas micro ou macro de todas as escolas econômicas, e é claramente a favor da continuidade da política econômica estritamente ortodoxa." Victoria lembra ainda que Alckmin nunca se mostrou contra a independência do Banco Central e nunca disse que gostaria de reduzir o superávit primário fiscal, adotando um forte ajuste nas contas do Estado de São Paulo. Já Serra "dá mais ênfase à taxa de câmbio mais fraca e taxas de juros mais baixas, e é menos amigo da idéia de um banco central independente", disse John Welch, analista da Lehman Brothers, que já notava a "leve preferência" do mercado por Alckmin em relatório do dia 19 de janeiro. Operadores de câmbio temiam, com Serra, uma menor liberdade no mercado de câmbio. Alckmin, dessa forma, é visto mais como continuidade do governo Lula do que o mais polêmico Serra, com sua personalidade forte e estilo centralizador. Apesar de Alckmin também criticar a política monetária, ele é favorável à liberalização do comércio e acordos e não é avesso a privatizações, lembra Mesquita. Welch acredita que ele intensificaria as negociações sobre a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Para Mesquita, Alckmin poderia replicar a divisão entre monetaristas mais radicais e os ditos desenvolvimentistas já experimentada no governo Fernando Henrique, pois tem se encontrado com representantes as duas vertentes de pensamento. Entre seus principais aliados no mundo da economia, Luiz Carlos Mendonça de Barros é muito bem visto pelo mercado, embora tenha propostas consideradas mais desenvolvimentistas do que os economistas da PUC/Rio. Para Roberto Padovani, da Tendências, o novo presidente, seja ele Lula ou Alckmin, não terá espaço de mudanças radicais na condução da economia. "O Brasil passou por avanços institucionais nos últimos anos, que limitam o espaço para grandes ousadias políticas", diz Padovani. Ele lembra também que, independente do desejo do novo presidente em afrouxar a política monetária, terá pouco espaço, pois o governo atual já está se encarregando disso. "O próximo presidente assumirá com uma taxa Selic bem mais palatável", completa Padovani. Para Padovani, o PSDB teria mais condições do que o PT de fazer alianças políticas mais amplas, o que facilitaria muito a aprovação de reformas importantes como a tributária, da Previdência Social e a autonomia do Banco Central.