Título: Lula articula em defesa de Palocci mas não evita convocação de caseiro à CPI
Autor: Raymundo Costa, Cristiano Romero e Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A10

O governo e o PT acordaram ontem para a nova crise envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, durante visita a Aracaju, que sua confiança no ministro é "inabalável". O PT, que nunca defendeu Palocci antes, divulgou nota de solidariedade. No Palácio do Planalto, o presidente iniciou pessoalmente uma operação para salvar o ministro, que perdeu o apoio que tinha na oposição para se sustentar no cargo. Palocci foi atingido nos últimos dias por denúncias feitas pelo caseiro Francenildo dos Santos Costa, que, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", disse ter visto o ministro várias vezes na mansão alugada, em Brasília, por integrantes da chamada República de Ribeirão Preto, onde, segundo ele, havia partilha de dinheiro e festas. O ministro desmentiu as afirmações do caseiro. "São mais denúncias evasivas. Já estamos acostumados com isso", disse ontem o presidente, que teria se convencido de que, se Palocci cair, seu projeto de reeleição poderá se comprometer. Preocupado, Lula fez sondagens no Congresso para avaliar a situação política do ministro da Fazenda. Pela primeira vez, Lula demonstrou a congressistas estar profundamente incomodado com o desgaste político provocado pela sucessão de acusações contra o ministro. Além do PT, o presidente consultou outros aliados, como o PMDB. Do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), Lula ouviu que as acusações do caseiro eram o assunto dominante no Senado, que elas haviam "colado", mas ainda não ao ponto de inviabilizar politicamente o ministro da Fazenda. Isso dependeria dos desdobramentos do episódio. Além das sondagens de Lula, chamou a atenção dos senadores o fato de o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), não ter se manifestado já na segunda-feira em defesa de Palocci. Na realidade, nem a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), defendeu o ministro. Quem tomou a iniciativa de organizar a defesa foi o ex-líder Tião Viana (AC), que integra a CPI dos Bingos, de onde têm partido as principais denúncias contra Palocci. Nas conversas com congressistas, Lula deixou claro que ele convocara o ministro, na segunda-feira, a dar explicações sobre as acusações do caseiro. Palocci, na conversa com o presidente, negou tudo, segundo disse Lula a senadores. O presidente repetiu por mais de uma vez que estava "preocupado" com o processo de desgaste político a que Palocci está submetido, às vésperas do início da campanha eleitoral. A discussão sobre a indicação de Palocci para coordenar a campanha à reeleição do presidente também entrou em banho-maria, após as novas denúncias envolvendo o ministro. A indicação já sofria a oposição de boa parte do governo e de seus aliados, como Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral), Jaques Wagner (Relações Institucionais) e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Além disso, a idéia de Palocci coordenar a campanha desagradou os senadores do PFL e do PSDB que adotaram, desde o início da crise política, em meados do ano passado, uma linha de proteção ao ministro da Fazenda. "Os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Heráclito Fortes (PFL-PI) 'desembarcaram' (do apoio a Palocci)", reconheceu um interlocutor do ministro, referindo-se a dois dos parlamentares da oposição que vinham preservando o ministro. Ontem, ACM votou contra Palocci na CPI dos Bingos. O governo, segundo apurou o Valor, começou a operar nos bastidores para ajudar Palocci nessa CPI. Ontem, a Comissão aprovou a convocação do caseiro Francenildo Costa para depor hoje, mas a votação foi apertada (oito votos a seis). Apesar dos esforços governistas, o senador petista Eduardo Suplicy (SP) votou pela convocação do caseiro e também do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Ontem, Francenildo não compareceu à sede da Polícia Federal, onde daria um depoimento a pedido da CPI. Em seu lugar, apareceu seu advogado, Wílcio Chaveiro Nascimento. Segundo o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), a despeito das críticas à política econômica, o PT vai proteger o ministro dos ataques que vem sofrendo. "Vamos acompanhar e fazer a defesa do ministro. O PT tem consciência de que os ataques não são contra Palocci, mas contra o partido e o governo", disse Berzoini. "Palocci foi poupado pela oposição em janeiro porque o presidente Lula ainda não havia se recuperado nas pesquisas. O cenário atual é completamente diferente." Secretário-geral do PT, o deputado estadual Raul Pont (RS) afirmou ontem que Palocci deve explicações. "Uma coisa é prestar solidariedade. Outra é deixar de esclarecer as coisas. Não tenho condições de dizer, neste momento, quem está mentindo, se o ministro ou o caseiro", disse Pont. (Colaborou Daniel Rittner, com agências noticiosas)