Título: Duda só responde a uma pergunta em comissão
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A10

Protegido por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o publicitário Duda Mendonça optou pelo silêncio em depoimento prestado ontem à CPI dos Correios. Mas não o silêncio comum daqueles depoentes respaldados em decisões judiciais desse tipo. O marqueteiro optou pelo silêncio completo e absoluto. Recusou-se a responder até quando lhe perguntaram o nome da esposa e dos filhos. Com base no depoimento, o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), anunciou que vai pedir o indiciamento do publicitário, pelo menos, por evasão de divisas. "O relatório apresentará as convicções da CPI sem o contraditório dele", revelou. "Não vou responder", foi a frase dita por Duda o tempo todo nas quase seis horas da sessão de ontem. O depoimento foi dividido em duas partes: na primeira, o publicitário falou em sessão aberta a todos os integrantes da CPI. Na segunda, depôs reservadamente. E nessa reunião a portas cerradas, Duda Mendonça revelou a intenção de nunca mais fazer campanhas eleitorais. "Ele disse que tem sofrido uma campanha política para destruí-lo", revelou o deputado Maurício Rands (PT-PE). A única resposta dada pelo publicitário na sessão aberta ocorreu no meio do depoimento, quando o deputado Carlos Willian (PTC-MG) lhe perguntou se acreditava em Deus. Duda virou-se para o advogado e argumentou: "Não sou candidato, posso responder". E emendou: "Acredito, sim". Duda tentou a todo momento mostrar aos parlamentares sua disposição em esclarecer tudo, mas estava impedido pelos advogados. "Eles me convencerem, às 3h de ontem (quarta-feira), que era melhor eu ficar calado. No meu primeiro depoimento (no dia 11 de agosto de 2005), abri meu coração e me ferrei", afirmou o publicitário. Em meio ao depoimento, o marqueteiro pediu cinco minutos. Precisava "tentar convencer os advogados" a deixarem-no falar. Voltou menos de dois minutos depois. Disse que os advogados estavam "irredutíveis". Serraglio fez diversas perguntas, não respondidas, com base nos dados cruzados pela CPI. Afirmou haver uma discrepância entre as informações fornecidas por Duda e aquelas obtidas pelas quebras de sigilo. O relator questionou o publicitário sobre a movimentação financeira das empresas dele. "Em 2003, suas empresas movimentaram R$ 56 milhões. Um ano depois, esse número chegou a R$ 352 milhões", afirmou Serraglio. Por fim, Duda só revelou ter pago R$ 4,3 milhões de impostos depois da descoberta do uso do caixa 2. "Já fui penalizado", disse. A CPI se irritou com Duda. "É a falência do sistema de depoimentos em CPIs. Muitas investigações deixarão de ser cumpridas por conta desses silêncios. É uma reflexão a ser feita pelo Supremo e pela Ordem dos Advogados do Brasil", afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Serraglio estuda indiciar o publicitário por obstrução às investigações. Rands concorda: "A interpretação do habeas corpus não é essa, de não responder a nada. Ele só está protegido de questões que possam incriminá-lo." (TVJ)