Título: Protesto indígena contra acordo com EUA eleva tensão no Equador
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Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Internacional, p. A11

Movimentos indígenas bloquearam estradas em diversos pontos do Equador e ocuparam igrejas e locais públicos em protesto contra a assinatura do tratado de livre comércio (TLC) com os EUA. Os protestos, iniciados na segunda, foram convocados pela maior organização indígena do país, Confederação de Organizações Indígenas do Equador (Conaie), por tempo indeterminado. Os dirigentes da Conaie exigem se encontrar com o presidente equatoriano, Alfredo Palácio, para discutir o tratado. Policiais e soldados do Exército tentaram liberar as ruas na região andina onde os protestos foram mais presentes, mas os manifestantes voltaram a bloquear as pistas. Foram registrados conflitos na periferia de Quito, onde quatro pessoas ficaram feridas por causa de bombas de gás lacrimogêneo lançadas pelos policiais. No centro da capital equatoriana, cerca de 30 pessoas invadiram e ocuparam a catedral metropolitana. As manifestações foram inicialmente convocadas para exigir mais recursos para os governos locais, mas se transformaram em protesto contra a assinatura do TLC com os EUA. Os negociadores equatorianos e americanos devem fechar sua última rodada de negociações na semana que vem, em Washington. O presidente Alfredo Palácio deve assinar o acordo no começo de abril. Colômbia e Peru já assinaram seus acordos comerciais com os EUA, os quais ainda têm de ser ratificados por seus Legislativos. O deputado indígena Jorge Guzmán, do movimento Pachakutik, braço político da Conaie, disse que proporá uma ação judicial contra o chefe de Estado se ele assinar o TLC com os EUA. "No momento em que seja assinado o TLC, nós vamos dar início ao pedido de julgamento político por traição à pátria contra o presidente", disse. O ministro do Interior, Alfredo Castillo, renunciou por causa de "divergências de opinião" em relação às negociações do tratado. Ele propôs a realização de um plebiscito e disse que as manifestações poderiam eventualmente até derrubar o governo. "Se não se submeterem às exigências sociais, será outro governo que se vai", disse. A Conaie teve papel fundamental nos protestos que levaram ao fim do governo de Jamil Mauad, em janeiro de 2000. Ano passado, o presidente Lucio Gutiérrez foi derrubado após uma onda de protestos. O Congresso equatoriano o destituiu.